A Isabel e o Nils vieram lanchar cá a casa esta tarde. Estão de partida para a Comporta por duas semanas e queriam matar saudades antes da tranquilidade da praia, peixe grelhado e literatura de cordel na toalha. Acho que também queriam matar saudades de comida boa porque aproveitaram para levar mantimentos para o descanso prometido. E também uma vela perfumada da Dyptique para espantar as melgas.
Cada vez estou mais seguro que foi desta que a Isabel acertou. Depois de várias tentativas falhadas e de algumas saídas de casa quase pela janela para evitar a fúria de alguns namorados ciumentos, a Isabel parece uma outra mulher.
E parece mesmo porque com as várias mudanças de corte de cabelo e uma maquilhagem carregada a Isabel está irreconhecível a um olhar fortuito.
Pode dizer-se que a Becas sempre foi a Linda Evangelista do nosso grupo até porque ambas nasceram no Canadá. A Becas nasceu em Toronto por acaso porque a mãe se enganou na data do parto previsto e aceitou um cargo directivo na Four Seasons sem pensar muito no assunto. E lá foi ela de vestido da Max Mara tamanho XL para disfarçar. Quanto à mãe da Linda Evangelista, acho que acertou em quase tudo.
A Becas cresceu por Toronto e depois por Ottawa até que a mãe se cansou de tanto hotel e Room Service e decidiu voltar à Madragoa. E também se fartou do pai da Becas porque até há pouco tempo só o víamos nos aniversários de ocasião.
Crescida e aparecida entre dois continentes, a Becas virou uma Isabel confiante e expedita.
E uma femme fatale na adolescência, ascensão profissional e conta bancária.
Mas até encontrar o Nils a coisa estava preta como uns collants da Dim da última colecção.
Teve a pobre de ir até Estocolmo numa viagem de negócios do Atelier de Decoração onde trabalha para se apaixonar perdidamente por um gigante louro de trazer por casa.
Até o convencer a vir viver para Lisboa e comer sardinhas no Verão foi um ápice. A Becas sempre teve argumentos de peso e toda a gente desconfia que ela sabe dança do ventre.
O Nils entrou sem problemas no grupo depois de perceber que ninguém queria saber nada de minimalismo na política educativa de Uppsala nos anos cinquenta. Arranjou trabalho como tradutor num instante e é o preferido das alunas que deixam mensagens no Facebook a compará-lo ao vampiro da saga Twilight.
A Becas nem dá por isso. Agora que penso mais sobre o assunto a Becas não parou de rir durante o lanche. Mesmo enquanto comia a caixa inteira da Versailles que eu tinha guardado só para mim. A Becas estava com um sorriso malandro esta tarde, estava sim senhor. E sem uma única ruga na testa. Deve ser porque agora tem um caso com o irmão do Nils. Se calhar é com o meio-irmão. Antevejo uma fuga curta pela janela do segundo andar ao Largo do Xafariz desta vez.
Bloguista acidental que não acidentado (ninguém se feriu durante a criação do perfil e conta associada). Pequenas histórias de um quotidiano cheio de surpresas ao virar da esquina. Prémio Pulitzer de escrita criativa durante os últimos dez anos, sem excepção. Recomendado por milhares de escritores e críticos de Kuala Lumpur a Montevideo. Temido por alguns grupos de pressão. Talvez exagere.
sábado, 17 de julho de 2010
À noite nem todos os gatos são pardos...
A Maria diz que o Leonardo é um gato. A Inês afirma que ele é um gatão. A Isabel, que é sempre uma exagerada, diz que ele é um pão (ou um sandwich, nunca sei o género da palavra). A Marta, ainda com sotaque das terras de Vera Cruz depois de uma temporada em Florianópolis a tentar gerir uma pousada na praia, diz que ele é um gostosão.
As conversas nos últimos dias começam sempre com o mesmo argumento e acabam em risinhos cúmplices. Se outrora se discutiam as propriedades benéficas do chá verde ou se a Zaha Hadid tinha acertado com o novo projecto para o Maxxi de Roma (houve dias em que discutimos também o último candeeiro da Alessi), por estas datas recentes o Leonardo é rei e senhor de cada reunião. Ou talvez seja o Napoleão porque toda a gente anseia por ser a sua nova Josefina.
Tem sido Leonardo de manhã à noite com os amigos, com os colegas de trabalho, com os cônjuges respectivos, com os amantizados, com os pais dos amigos dos filhos à porta do colégio e das aulas de Body-Pump. A Maria diz que até discutiu o assunto com a operadora de caixa na Bertrand um destes dias quando foi comprar o livro de receitas da Mafalda Pinto Leite. E parece que a Isabel fala frequentemente com a empregada ucraniana sobre o assunto. A Marta diz que já há workshops na FNAC. Não se aguenta tanto boato.
Eu acho que a discussão está a ficar séria e tento averiguar de mansinho o verdadeiro teor deste raciocínio ímpar da bio-física molecular (parece que o Leonardo também está para as curvas e tem o corpo de um Adónis pré-reforma agrária).
Faço-me valer de grande força interior e da pedra do meu signo que me esqueci no bolso das calças e focalizo toda a energia para descobrir o larápio do coração das minhas amigas.
Digo solenemente que não conheço tal figura ilustre e que acho estranho nunca me terem apresentado em nenhuma ocasião ou abertura de uma galeria ou loja no Chiado.
Ou a algum dos maridos / cônjugues / amigos ocasionais com direito a visitas frequentes a casa. Estamos todos perdidos de curiosidade e o Zé Eduardo já se enganou duas vezes esta semana nas contas com o Banco do Japão. Acho que perdeu algum dinheiro porque os televisores LCD de vinte polegadas da Sony desapareceram lá de casa.
Aliás, o Zé anda tão nervoso com os rumores que já pensou em contratar um detective. Depois pensou melhor e contratou outro corretor para a empresa. Parece que apresentam os mesmos resultados aos clientes. Adiante. O Leonardo é uma ameaça para o grupo, diz o Zé.
E é óbvio que eu vou ter de descobrir quem ele é e em que poleiro canta este já célebre rouxinol. Confesso que tenho passado algumas horas sem dormir e a dar as voltas à cabeça. Também pode ser porque tenha experimentado um novo gel fixador. Nunca se sabe.
Mas hoje estou mais tranquilo e ligo ao Zé cheio de alegria e satisfação.
Digo-lhe que posso comprovar com toda a segurança que ele não tem nada que se preocupar e pode deixar a Sílvia à porta do Holmes Place como habitualmente quando ela regressar de Londres.
Parece que o gatão do Leonardo é um galã de uma telenovela mexicana que passa na TV Cabo ao final da tarde e já vai em 356 capítulos de folhetim. A Isabel prometeu que me enviava o Trailer no You Tube.
As conversas nos últimos dias começam sempre com o mesmo argumento e acabam em risinhos cúmplices. Se outrora se discutiam as propriedades benéficas do chá verde ou se a Zaha Hadid tinha acertado com o novo projecto para o Maxxi de Roma (houve dias em que discutimos também o último candeeiro da Alessi), por estas datas recentes o Leonardo é rei e senhor de cada reunião. Ou talvez seja o Napoleão porque toda a gente anseia por ser a sua nova Josefina.
Tem sido Leonardo de manhã à noite com os amigos, com os colegas de trabalho, com os cônjuges respectivos, com os amantizados, com os pais dos amigos dos filhos à porta do colégio e das aulas de Body-Pump. A Maria diz que até discutiu o assunto com a operadora de caixa na Bertrand um destes dias quando foi comprar o livro de receitas da Mafalda Pinto Leite. E parece que a Isabel fala frequentemente com a empregada ucraniana sobre o assunto. A Marta diz que já há workshops na FNAC. Não se aguenta tanto boato.
Eu acho que a discussão está a ficar séria e tento averiguar de mansinho o verdadeiro teor deste raciocínio ímpar da bio-física molecular (parece que o Leonardo também está para as curvas e tem o corpo de um Adónis pré-reforma agrária).
Faço-me valer de grande força interior e da pedra do meu signo que me esqueci no bolso das calças e focalizo toda a energia para descobrir o larápio do coração das minhas amigas.
Digo solenemente que não conheço tal figura ilustre e que acho estranho nunca me terem apresentado em nenhuma ocasião ou abertura de uma galeria ou loja no Chiado.
Ou a algum dos maridos / cônjugues / amigos ocasionais com direito a visitas frequentes a casa. Estamos todos perdidos de curiosidade e o Zé Eduardo já se enganou duas vezes esta semana nas contas com o Banco do Japão. Acho que perdeu algum dinheiro porque os televisores LCD de vinte polegadas da Sony desapareceram lá de casa.
Aliás, o Zé anda tão nervoso com os rumores que já pensou em contratar um detective. Depois pensou melhor e contratou outro corretor para a empresa. Parece que apresentam os mesmos resultados aos clientes. Adiante. O Leonardo é uma ameaça para o grupo, diz o Zé.
E é óbvio que eu vou ter de descobrir quem ele é e em que poleiro canta este já célebre rouxinol. Confesso que tenho passado algumas horas sem dormir e a dar as voltas à cabeça. Também pode ser porque tenha experimentado um novo gel fixador. Nunca se sabe.
Mas hoje estou mais tranquilo e ligo ao Zé cheio de alegria e satisfação.
Digo-lhe que posso comprovar com toda a segurança que ele não tem nada que se preocupar e pode deixar a Sílvia à porta do Holmes Place como habitualmente quando ela regressar de Londres.
Parece que o gatão do Leonardo é um galã de uma telenovela mexicana que passa na TV Cabo ao final da tarde e já vai em 356 capítulos de folhetim. A Isabel prometeu que me enviava o Trailer no You Tube.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Breve carta de amor a São Paulo...
A minha tia Mimi diz que eu já tive melhores dias. E melhores cores. E que a barba já me ficou melhor. E que os sapatos precisam de ser engraxados. Bem, a minha tia Mimi hoje está uma chata. Diz também que tem a solução para todos os meus problemas, menos para os sapatos com ar Vintage do Martin Margiela. Para isso existem bons artistas sapateiros, diz ela.
Diz que está disposta a pagar-me umas férias em São Paulo porque tem a certeza que eu estou a morrer de saudades da selva de pedra do outro lado do charco.
A minha tia Mimi acerta sempre. É uma fada-madrinha exemplar e uma poupança em consultas de Tarot ou mapas astrais.
Eu devo muito à Mimi e não me esqueço do que ela fez por mim.
Quando era pequeno e via muita televisão quando chegava do colégio, a Mimi fazia-me o lanche e deixava-me rir a bandeiras despregadas com o Topo Gigio.
O problema foi quando deram o último episódio e não renovaram a série. Aí passei do riso ao choro desesperado e a minha tia mostrou de que são feitas as mulheres da nossa família.
Garanto-vos que se o Topo Gigio não voltou foi por pouco. Ou porque foi viver a reforma para San Remo. Porque reclamações verbais e escritas à RTP a minha tia fez às centenas.
Esteve quase a organizar uma manifestação com alguns sindicalistas. Só com os que viam bonecos, na altura.
Deve ser por isso que ela quer que eu vá uns dias para São Paulo retemperar energias.
E não tem que ser agora, pode ser quando eu quiser, acrescenta.
E a verdade é que vontade não me falta de voltar à minha Vila Madalena e ao Ibirapuera. Aos almoços no Spot e os fins-de-tarde em Higienópolis. E aos cafés no Suplicy para ler o José Simão na Folha de São Paulo cada manhã.
Fui muito feliz quando vivi em São Paulo. Quase tão feliz como quando conheci o Topo Gigio em carne e osso (ou cartilagem se apropriado).
Diz que está disposta a pagar-me umas férias em São Paulo porque tem a certeza que eu estou a morrer de saudades da selva de pedra do outro lado do charco.
A minha tia Mimi acerta sempre. É uma fada-madrinha exemplar e uma poupança em consultas de Tarot ou mapas astrais.
Eu devo muito à Mimi e não me esqueço do que ela fez por mim.
Quando era pequeno e via muita televisão quando chegava do colégio, a Mimi fazia-me o lanche e deixava-me rir a bandeiras despregadas com o Topo Gigio.
O problema foi quando deram o último episódio e não renovaram a série. Aí passei do riso ao choro desesperado e a minha tia mostrou de que são feitas as mulheres da nossa família.
Garanto-vos que se o Topo Gigio não voltou foi por pouco. Ou porque foi viver a reforma para San Remo. Porque reclamações verbais e escritas à RTP a minha tia fez às centenas.
Esteve quase a organizar uma manifestação com alguns sindicalistas. Só com os que viam bonecos, na altura.
Deve ser por isso que ela quer que eu vá uns dias para São Paulo retemperar energias.
E não tem que ser agora, pode ser quando eu quiser, acrescenta.
E a verdade é que vontade não me falta de voltar à minha Vila Madalena e ao Ibirapuera. Aos almoços no Spot e os fins-de-tarde em Higienópolis. E aos cafés no Suplicy para ler o José Simão na Folha de São Paulo cada manhã.
Fui muito feliz quando vivi em São Paulo. Quase tão feliz como quando conheci o Topo Gigio em carne e osso (ou cartilagem se apropriado).
quinta-feira, 15 de julho de 2010
A empregada da vizinha nem sempre é melhor que a minha...
O Zé Eduardo avisa que este fim-de-semana vou ter de fazer entrevistas a cinco candidatas para empregada da família.
Eu quase que me engasgo com um leite de chocolate da UCAL (fico à espera de um carregamento substancial para minha casa depois da publicidade subliminar) e nem sei o que dizer. Ele acha que o telemóvel pode estar sob escuta depois dos meus sons algo inusitados e gagejos, desliga e volta a ligar.
Quando a ligação é restabelecida e ele começa a falar, ponho o UCAL de lado e sento-me à beira da cama. Também ponho a Oprah mais baixo porque o Zé pode pensar que quem o escuta do outro lado tem o centro de diagnóstico no Harlem. E logo hoje que a Oprah entrevistava a Chaka Kan. Acho que ela até cantava no final. Adiante.
Eu nunca percebi porque é que a Sílvia nunca está presente nestes momentos de profunda convulsão da vida do marido mas o Zé corta o meu raciocínio e diz que a Sílvia está muito em baixo. Eu fico sempre preocupado com estes estados de alma da minha amiga porque da última vez a pobre coitada chegou à sub-cave da depressão por não conseguir bilhetes para o Michael Bubblé na plateia VIP do Pavilhão Atlântico. Parece que o choque foi tão grande que não tem conseguido sair do Harvey Nichols em Londres ou algo parecido. Pode ser que seja a Top Shop mas não me parece que ela saiba o caminho de táxi para Oxford Circus.
Solto então a pergunta fatal ao Zé.
Tenho medo e começo a ficar arrepiado. Ah, é uma corrente de ar. Vou fechar a janela.
Sossego mas não desisto. "O que é que aconteceu à Glória? Ela era fantástica, não era? Esteve convosco tanto tempo". Depois penso bem e acho que foram só dois meses.
Se calhar nem teve tempo de experimentar a piscina aquecida.
E já que a dúvida não me sai da cabeça, como as extensões que se colocam na Jamaica em lua-de-mel, fico a pensar que a pobre coitada até tinha recuperado de forma excelente quando o Rodrigo lhe provocou a queda parcial do cabelo porque juntou Super Cola 3 ao amaciador do Boticário (estou a ficar tão bom no Marketing de Guerrilha que não duvido que este ano receba um farto cabaz de Natal com produtos com manteiga de cajú).
Mas o Zé avança com argumentos de peso ora não fosse ele um gestor de sucesso na bolsa que trata o índice Nikkei por tu e o Nasdaq por você. E parece que o PSI 20 é por "Tio".
Diz que descobriram que a Glória bebia frequentemente o Cutty Sark de 12 anos e tinha levado algumas figuras da Lladró e uma boneca da Rosa Pomar da prateleira. Ou foi isso ou o Columbano da parede, o Zé não percebe muito de decoração.
Mas o mais grave, grita ele ao telefone, é que a empregada andava a utilizar os cremes da Sílvia e cheirava sempre a Eau du Soir da Sisley quando lhe davam folga.
Que desfecho dramático. Uma coisa é beber whisky nas horas vagas, outra é encherse de creme da Shiseido de forma ilegal e abusiva. Acho que a Sílvia fica por Londres de vez.
É por isso que decido no momento e que digo que sim ao Zé Eduardo. Digo que sim a tudo.
Quando ele me diz que eu tenho de os proteger a todos dos ladrões, que eu tenho de passear o cão e o camaleão nos momentos mortos entre entrevistas / interrogatórios, que tenho de separar o lixo e ir levá-lo ao depósito (na última vez enganei-me nas cores e lancei o papel no vidrão), que vou comprar mais cremes à Sephora, que compro o Eau du Soir tamanho gigante com a tampa trabalhada e o Coffret com sabonete, que vou buscar a Hola e a El Mueble à papelaria.
Ah não, o Zé anda a abusar muito.
A Hola fica para mim.
Eu quase que me engasgo com um leite de chocolate da UCAL (fico à espera de um carregamento substancial para minha casa depois da publicidade subliminar) e nem sei o que dizer. Ele acha que o telemóvel pode estar sob escuta depois dos meus sons algo inusitados e gagejos, desliga e volta a ligar.
Quando a ligação é restabelecida e ele começa a falar, ponho o UCAL de lado e sento-me à beira da cama. Também ponho a Oprah mais baixo porque o Zé pode pensar que quem o escuta do outro lado tem o centro de diagnóstico no Harlem. E logo hoje que a Oprah entrevistava a Chaka Kan. Acho que ela até cantava no final. Adiante.
Eu nunca percebi porque é que a Sílvia nunca está presente nestes momentos de profunda convulsão da vida do marido mas o Zé corta o meu raciocínio e diz que a Sílvia está muito em baixo. Eu fico sempre preocupado com estes estados de alma da minha amiga porque da última vez a pobre coitada chegou à sub-cave da depressão por não conseguir bilhetes para o Michael Bubblé na plateia VIP do Pavilhão Atlântico. Parece que o choque foi tão grande que não tem conseguido sair do Harvey Nichols em Londres ou algo parecido. Pode ser que seja a Top Shop mas não me parece que ela saiba o caminho de táxi para Oxford Circus.
Solto então a pergunta fatal ao Zé.
Tenho medo e começo a ficar arrepiado. Ah, é uma corrente de ar. Vou fechar a janela.
Sossego mas não desisto. "O que é que aconteceu à Glória? Ela era fantástica, não era? Esteve convosco tanto tempo". Depois penso bem e acho que foram só dois meses.
Se calhar nem teve tempo de experimentar a piscina aquecida.
E já que a dúvida não me sai da cabeça, como as extensões que se colocam na Jamaica em lua-de-mel, fico a pensar que a pobre coitada até tinha recuperado de forma excelente quando o Rodrigo lhe provocou a queda parcial do cabelo porque juntou Super Cola 3 ao amaciador do Boticário (estou a ficar tão bom no Marketing de Guerrilha que não duvido que este ano receba um farto cabaz de Natal com produtos com manteiga de cajú).
Mas o Zé avança com argumentos de peso ora não fosse ele um gestor de sucesso na bolsa que trata o índice Nikkei por tu e o Nasdaq por você. E parece que o PSI 20 é por "Tio".
Diz que descobriram que a Glória bebia frequentemente o Cutty Sark de 12 anos e tinha levado algumas figuras da Lladró e uma boneca da Rosa Pomar da prateleira. Ou foi isso ou o Columbano da parede, o Zé não percebe muito de decoração.
Mas o mais grave, grita ele ao telefone, é que a empregada andava a utilizar os cremes da Sílvia e cheirava sempre a Eau du Soir da Sisley quando lhe davam folga.
Que desfecho dramático. Uma coisa é beber whisky nas horas vagas, outra é encherse de creme da Shiseido de forma ilegal e abusiva. Acho que a Sílvia fica por Londres de vez.
É por isso que decido no momento e que digo que sim ao Zé Eduardo. Digo que sim a tudo.
Quando ele me diz que eu tenho de os proteger a todos dos ladrões, que eu tenho de passear o cão e o camaleão nos momentos mortos entre entrevistas / interrogatórios, que tenho de separar o lixo e ir levá-lo ao depósito (na última vez enganei-me nas cores e lancei o papel no vidrão), que vou comprar mais cremes à Sephora, que compro o Eau du Soir tamanho gigante com a tampa trabalhada e o Coffret com sabonete, que vou buscar a Hola e a El Mueble à papelaria.
Ah não, o Zé anda a abusar muito.
A Hola fica para mim.
A Maria vai entrar para um convento...
Ao final da manhã em Lisboa o trânsito parou na Segunda-Circular. Acho que houve problemas também no Estoril e Cascais e algures pelo Guincho. Acho que houve pelo menos uma derrapagem algures pelo Beato e outra na Bica.
Alguém passou dois sinais vermelhos e não deu por um radar.
Recebemos um SMS com a informação sucinta e transparente (como a nova colecção da Bottega Veneta-Bravo Thomas Maier, you´re getting there and paying off your Time-Share flat in Palm Beach) da Maria que dizia simplesmente "Vou entrar para um convento em 5 minutos". Não sei se perceberam como se faz um excelente product placement. Vou ficar à espera de uma vale de desconto.
Quem conhece a Maria de gingeira e da Ginginha do Rossio não devia estranhar muito. Afinal cresceu com as inúmeras repetições do Música no Coração no Natal e deu a maior desilusão da vida aos pais (ainda não recompostos numa quinta em Punta del Este, coitadinhos) quando anunciou que abandonava uma promissora carreira no Coro de Santo Amaro de Oeiras e ia juntar-se à presuposta vida devassa dos Ministars.
Eu sempre achei que a Maria daria uma freira ideal e eternamente chique. Compaixão e oração não lhe faltam, especialmente quando os três filhos querem jogar todos ao mesmo tempo com a Playstation. Eu já questionei várias vezes esta tendência educativa e apresentei propostas para levar os petizes a Workshops interessantíssimos de Sudoku ou ao Rugby. E ao Full-Contact também tentámos ir mas as crianças levaram a expressão a peito e partiram tudo antes da primeira aula. Mais ou menos como o partido político do Jel.
Bem, estava eu a falar de freiras. Dizia eu que a Maria era a aposta acertada para a igreja destes tempos e uma lufada de ar fresco como um perfume da Chanel (atentos ao product placement novamente). Sabe cantar lindamente e tem um espírito positivo como poucas.
Para além de tudo isto, agora deu-lhe para a agricultura biológica na quinta de Colares o que ajuda sempre na horta da congregação.
E tem um curso de jardinagem com o Pierre Passebon. Ou o livro na mesa da sala. Já não me lembro muito bem.
Mas o SMS da Maria, que causou mais reacções calamitosas que a introdução de uma Scut entre as Twin Towers e o metro das Laranjeiras afinal era falso alarme.
"Vou entrar para um convento em cinco minutos. Vou comprar um novo apartamento no condomínio fechado dos Inglesinhos", era assim o SMS inteiro.
Alguém passou dois sinais vermelhos e não deu por um radar.
Recebemos um SMS com a informação sucinta e transparente (como a nova colecção da Bottega Veneta-Bravo Thomas Maier, you´re getting there and paying off your Time-Share flat in Palm Beach) da Maria que dizia simplesmente "Vou entrar para um convento em 5 minutos". Não sei se perceberam como se faz um excelente product placement. Vou ficar à espera de uma vale de desconto.
Quem conhece a Maria de gingeira e da Ginginha do Rossio não devia estranhar muito. Afinal cresceu com as inúmeras repetições do Música no Coração no Natal e deu a maior desilusão da vida aos pais (ainda não recompostos numa quinta em Punta del Este, coitadinhos) quando anunciou que abandonava uma promissora carreira no Coro de Santo Amaro de Oeiras e ia juntar-se à presuposta vida devassa dos Ministars.
Eu sempre achei que a Maria daria uma freira ideal e eternamente chique. Compaixão e oração não lhe faltam, especialmente quando os três filhos querem jogar todos ao mesmo tempo com a Playstation. Eu já questionei várias vezes esta tendência educativa e apresentei propostas para levar os petizes a Workshops interessantíssimos de Sudoku ou ao Rugby. E ao Full-Contact também tentámos ir mas as crianças levaram a expressão a peito e partiram tudo antes da primeira aula. Mais ou menos como o partido político do Jel.
Bem, estava eu a falar de freiras. Dizia eu que a Maria era a aposta acertada para a igreja destes tempos e uma lufada de ar fresco como um perfume da Chanel (atentos ao product placement novamente). Sabe cantar lindamente e tem um espírito positivo como poucas.
Para além de tudo isto, agora deu-lhe para a agricultura biológica na quinta de Colares o que ajuda sempre na horta da congregação.
E tem um curso de jardinagem com o Pierre Passebon. Ou o livro na mesa da sala. Já não me lembro muito bem.
Mas o SMS da Maria, que causou mais reacções calamitosas que a introdução de uma Scut entre as Twin Towers e o metro das Laranjeiras afinal era falso alarme.
"Vou entrar para um convento em cinco minutos. Vou comprar um novo apartamento no condomínio fechado dos Inglesinhos", era assim o SMS inteiro.
Hola Muchachos!
O Francisco diz que em Espanha é que se está bem. Deve estar-se "de maravilla" porque já se esqueceu que em Madrid têm uma hora e cinco anos de desenvolvimento do PIB de avanço e ontem ligou-me já tarde.
Acho que ele faz de propósito para eu me chatear, dar a mão à palmatória e adorar que ele tenha ido para outro país.
O Francisco é veterinário e acho que agora está a trabalhar com touros numa "Finca" perto de Toledo. O Francisco foi sempre de casta superior e tinha pinta de toureiro desde miúdo por isso ninguém pode estranhar este desígnio de vida.
É bom saber que ele está bem num país que o acolheu de braços abertos e "de cuernos afilados".
Mas eu que já não tenho idade para touradas lembro-me que nem sempre foi assim.
Há uns meses era chamada internacional atrás de chamada internacional (Skype não era porque o Francisco nunca teve computador) a dizer que estava farto de "pastar" na vida e que já não aguentava comer "Torrón de Alicante" no Natal.
O Francisco, sempre de pêlo na venta e colete estreito, estava em baixo, coitado, porque "las chicas" não lhe passavam cartão.
Tinha passado de conquistador nato a Casanova barato e nem a vacas mugiam, dizia ele.
Isto foi antes de encontrar a Laila e se perder de humores por uma espanhola dos quatro costados e filha de um cozinheiro de renome de Valladolid.
O dinheiro do pai (o da Laila porque o do Francisco fugiu para o Chile nos anos setenta e nunca mais voltou) fez o resto e abriram um "Hostal de Lujo" nos arrabaldes da grande cidade de onde se vê o Palácio da Zarzuela à noite e os turistas podem tirar fotografias aos "tacones" da Letizia.
Deve ser por isso que ele me ligou, digo eu esta manhã.
Deve querer que eu faça mais uma promoção de "pague 5 y lleve 10" para o Website do "Hostal".
O Francisco é um pedinchão mas eu vou fazer-lhe a vontade até porque ele ainda não consegue dizer duas em castelhano e falar nem vê-lo (ou ouvi-lo).
Deve ser por isso que o casamento corre tão bem e eu vou ser padrinho da terceira criação a dois. Vai chamar-se Luís e se for como o pai vai ser como o filho da Naty Abascal. Tiro e queda, temos outro Medina a caminho.
Acho que ele faz de propósito para eu me chatear, dar a mão à palmatória e adorar que ele tenha ido para outro país.
O Francisco é veterinário e acho que agora está a trabalhar com touros numa "Finca" perto de Toledo. O Francisco foi sempre de casta superior e tinha pinta de toureiro desde miúdo por isso ninguém pode estranhar este desígnio de vida.
É bom saber que ele está bem num país que o acolheu de braços abertos e "de cuernos afilados".
Mas eu que já não tenho idade para touradas lembro-me que nem sempre foi assim.
Há uns meses era chamada internacional atrás de chamada internacional (Skype não era porque o Francisco nunca teve computador) a dizer que estava farto de "pastar" na vida e que já não aguentava comer "Torrón de Alicante" no Natal.
O Francisco, sempre de pêlo na venta e colete estreito, estava em baixo, coitado, porque "las chicas" não lhe passavam cartão.
Tinha passado de conquistador nato a Casanova barato e nem a vacas mugiam, dizia ele.
Isto foi antes de encontrar a Laila e se perder de humores por uma espanhola dos quatro costados e filha de um cozinheiro de renome de Valladolid.
O dinheiro do pai (o da Laila porque o do Francisco fugiu para o Chile nos anos setenta e nunca mais voltou) fez o resto e abriram um "Hostal de Lujo" nos arrabaldes da grande cidade de onde se vê o Palácio da Zarzuela à noite e os turistas podem tirar fotografias aos "tacones" da Letizia.
Deve ser por isso que ele me ligou, digo eu esta manhã.
Deve querer que eu faça mais uma promoção de "pague 5 y lleve 10" para o Website do "Hostal".
O Francisco é um pedinchão mas eu vou fazer-lhe a vontade até porque ele ainda não consegue dizer duas em castelhano e falar nem vê-lo (ou ouvi-lo).
Deve ser por isso que o casamento corre tão bem e eu vou ser padrinho da terceira criação a dois. Vai chamar-se Luís e se for como o pai vai ser como o filho da Naty Abascal. Tiro e queda, temos outro Medina a caminho.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Os cozinhados à pressa ficam como um filme tardio do Vincent Minelli...
Já não tenho idade para comer tarde e a más horas.
Ainda por cima sem justificações giras e impiedosas tipo "O lanche com a Grace Coddington e o Hamish Bowles na Billy´s bakery prolongou-se pela tarde toda". Ou então "fiquei preso numa Loja Tangerina da Galp num happening organizado pela Ativism". A primeira não cola porque a Grace lancha cedo e o Hamish não está esta semana em NYC. A segunda faz soar alarmes ao grupo de amigos atentos porque eu não tenho carro.
Vou ter que inventar desculpas mais criativas mas plausíveis para ir à rua e fazer a digestão.
Já não tenho capacidade de digerir dissabores como este. A idade não perdoa e eu tenho de me poupar. Vou ver se consigo ser amigo do fundador do Micro-Crédito no Facebook...
Ainda por cima sem justificações giras e impiedosas tipo "O lanche com a Grace Coddington e o Hamish Bowles na Billy´s bakery prolongou-se pela tarde toda". Ou então "fiquei preso numa Loja Tangerina da Galp num happening organizado pela Ativism". A primeira não cola porque a Grace lancha cedo e o Hamish não está esta semana em NYC. A segunda faz soar alarmes ao grupo de amigos atentos porque eu não tenho carro.
Vou ter que inventar desculpas mais criativas mas plausíveis para ir à rua e fazer a digestão.
Já não tenho capacidade de digerir dissabores como este. A idade não perdoa e eu tenho de me poupar. Vou ver se consigo ser amigo do fundador do Micro-Crédito no Facebook...
Porque há génios absolutamente geniais...
Um dia em Amesterdão, estava eu como estagiário na Fundação Felix Meritis, quando conheci a Evelyn Fox Keller. Foi um culminar brilhante para um início desastroso.
Lembro-me bem de cada detalhe porque nada parecia normal naquela jornada particular.
Se a Marisa Monte acha que pode cantar, sob o auspício do morro dos dois irmãos de Ipanema, o seu "infinito particular", eu estou seguro de me ter sentido infinitamente pateta naquele dia.
O facto da lâmina de barbear se ter partido a meio da operação delicada para encerrar o ciclo da barba de 5 dias habitual, e de ter ido trabalhar com parte da cara tipo Joker da Marvel não ajudou em aboluto. Isso e por ter nevado em Abril na Holanda. Tudo naquele dia fazia prever uma longa e exaustiva missiva papal de perdão absoluto ou de fuga iminente para os calores do chocolate da Godiva em Bruxelas.
E depois entrei no escritório e disseram-me que tinha de ir buscar a Evelyn Fox Keller ao hotel e trazê-la para a Fundação. Eu obviamente disfarcei de forma correcta qual aluno do Actor´s Studio no último ano patrocinado pelo sobrinho do Eastwood e confirmei que sabia quem era a figura emblemática do MIT. E até falei das várias correntes em discussão em Stanford e Yale (contraditórias) sobre pesquisa somática com um toque de Wittgenstein. Nem a barba a meio me deteve.
Presumi que tínhamos mais uma conferencista de excepção mas não reconheci o talento real e corpóreo do nome. Mas como disfarço lindamente e tenho um sorriso irresistível como diz a minha amiga Maria quando está sob o efeito de barbitúricos, assumi o desafio como mais um passo para chegar de forma célere a presidente da Comissão Europeia. Ou a estrela de filmes mudos Indianos em Bangalore.
E assim fiz, de pequeno dossier ao peito e com o meu ar de personagem de um filme do Tim Burton, e fui buscar a senhora ao lado do Café de Jaren ao Hotel de L´Europe.
E, cutting a long way short, depois de um segundo pequeno-almoço improvisado de dois desconhecidos cuja única paixão partilhada e reconhecida era pelo verde dos campos de Cambridge-Massachussets, e de algumas horas a ouvir uma mulher falar com a segurança e sabedoria sobre a importância da linguagem na Ciência, caí de amores pela vida e obra deste personagem genial. E tornei-me um perfeito e confesso stalker até não ter mais nada para ler ou investigar sobre o CV e a vida íntima (biologia molecular a quanto obrigas) deste ser tão especial.
Não falamos há anos e nem sei se ainda tem o mesmo escritório com vista para a casa da Teresa Heinz em Beacon Hill. Acho que partilhavam receitas de Ketchup e outras dicotomias ancestrais sobre silogismos Aristotélicos.
Não sei se ainda está entre nós mas é a minha única maneira de a sentir por perto esta noite:
http://web.mit.edu/sts/people/keller.html
Para bom entendedor meio Link chega.
Vou jantar que o lanche deixou-me com água na boca.
Lembro-me bem de cada detalhe porque nada parecia normal naquela jornada particular.
Se a Marisa Monte acha que pode cantar, sob o auspício do morro dos dois irmãos de Ipanema, o seu "infinito particular", eu estou seguro de me ter sentido infinitamente pateta naquele dia.
O facto da lâmina de barbear se ter partido a meio da operação delicada para encerrar o ciclo da barba de 5 dias habitual, e de ter ido trabalhar com parte da cara tipo Joker da Marvel não ajudou em aboluto. Isso e por ter nevado em Abril na Holanda. Tudo naquele dia fazia prever uma longa e exaustiva missiva papal de perdão absoluto ou de fuga iminente para os calores do chocolate da Godiva em Bruxelas.
E depois entrei no escritório e disseram-me que tinha de ir buscar a Evelyn Fox Keller ao hotel e trazê-la para a Fundação. Eu obviamente disfarcei de forma correcta qual aluno do Actor´s Studio no último ano patrocinado pelo sobrinho do Eastwood e confirmei que sabia quem era a figura emblemática do MIT. E até falei das várias correntes em discussão em Stanford e Yale (contraditórias) sobre pesquisa somática com um toque de Wittgenstein. Nem a barba a meio me deteve.
Presumi que tínhamos mais uma conferencista de excepção mas não reconheci o talento real e corpóreo do nome. Mas como disfarço lindamente e tenho um sorriso irresistível como diz a minha amiga Maria quando está sob o efeito de barbitúricos, assumi o desafio como mais um passo para chegar de forma célere a presidente da Comissão Europeia. Ou a estrela de filmes mudos Indianos em Bangalore.
E assim fiz, de pequeno dossier ao peito e com o meu ar de personagem de um filme do Tim Burton, e fui buscar a senhora ao lado do Café de Jaren ao Hotel de L´Europe.
E, cutting a long way short, depois de um segundo pequeno-almoço improvisado de dois desconhecidos cuja única paixão partilhada e reconhecida era pelo verde dos campos de Cambridge-Massachussets, e de algumas horas a ouvir uma mulher falar com a segurança e sabedoria sobre a importância da linguagem na Ciência, caí de amores pela vida e obra deste personagem genial. E tornei-me um perfeito e confesso stalker até não ter mais nada para ler ou investigar sobre o CV e a vida íntima (biologia molecular a quanto obrigas) deste ser tão especial.
Não falamos há anos e nem sei se ainda tem o mesmo escritório com vista para a casa da Teresa Heinz em Beacon Hill. Acho que partilhavam receitas de Ketchup e outras dicotomias ancestrais sobre silogismos Aristotélicos.
Não sei se ainda está entre nós mas é a minha única maneira de a sentir por perto esta noite:
http://web.mit.edu/sts/people/keller.html
Para bom entendedor meio Link chega.
Vou jantar que o lanche deixou-me com água na boca.
O 44 não é um autocarro qualquer...
Recomposto de um almoço surreal mas divertido com duas trintonas enxutíssimas que desta vez não se pegaram como duas atracções do Circo Chen, vou de imediato ter com o Zé Eduardo para um café vespertino à espera de notícias frescas.
É um hábito ancestral vermo-nos todas as semanas por poucos mas bons minutos no Open Space de um palácio ocre na Bica e trocarmos algumas ideias sobre "O" assunto.
Esta semana o Zé Eduardo acha que temos de discutir em cinco minutos se avançamos ou não com a compra de mais uma empresa em Macau.
O Zé fala sempre de decisões conjuntas mas eu não sou quadro da empresa e muito menos me pagam para emitir opiniões. Geralmente aceno se estou de acordo ou franzo o sobrolho se me choco facilmente com um projecto específico.
O Zé diz que eu sou como a "prata da casa" e que assim não tem de pagar a Consultoras com nomes sonantes no mercado.
E diz que eu sou como um barómetro silencioso, uma Cassandra com um instituto assassino para os negócios.
Ele acha que eu desenvolvi esta vertente patológica para delinear estratégias empresariais a preço zero nas minhas viagens no 44 da Carris. Deve ser por isso que me paga o Passe (Metro incluído) todos os meses. Eu respondo e aceno com a cabeça (muito Diana Ross) que o 44 é um exercício sociológico da realidade portuguesa porque percorre em algumas meias-horas o tecido industrial e a economia de serviços dos Alfacinhas que suam a estopinhas.
"Vai do Luxo ao Lixado", como diz a Maria. E eu lá vou do Parque das Nações ao Cais do Sodré. Nestes momentos de rara e serena contemplação à janela de um autocarro ausculta-se a realidade dos Lisboetas de gema ou dos patos-bravos ocasionais (passageiros muito pouco frequentes). Quando paramos no Hospital dos SAMS nos Olivais entram dezenas de carpideiras com dores tão fortes que o coro de vozes femininas da Bulgária quase perdia mercado no vinil. No Aeroporto entram Comissários de Bordo e Hospedeiras cheias de sono e já com maquilhagem de três dias. Na Avenida do Brasil entram empregados de escritório e os seus respectivos empregados internos de passeio a Alvalade. Olívias Patroas e Olívias Costureiras. E depois são as Avenidas Novas numa loucura de trânsito até à Avenida da Liberdade. No Marquês de Pombal o autocarro apanha sempre turistas com "pelotas" da Camper que fazem imensas perguntas sem nexo tipo "good restaurant with grilled sardines nearby?" e há sempre alguma hospedeira que começa a gritar com o motorista e diz que está atrasada para ir cortar o cabelo ao Patrick e fazer as unhas no Sérgio e Margarida.
No Rossio apanhamos carteiristas e depois não paramos até ao Cais do Sodré. Jogo limpo.
O Zé Eduardo tem razão. Eu mereço que ele me pague o Passe Combinado até atingir a idade de reforma e poder viajar de graça.
É um hábito ancestral vermo-nos todas as semanas por poucos mas bons minutos no Open Space de um palácio ocre na Bica e trocarmos algumas ideias sobre "O" assunto.
Esta semana o Zé Eduardo acha que temos de discutir em cinco minutos se avançamos ou não com a compra de mais uma empresa em Macau.
O Zé fala sempre de decisões conjuntas mas eu não sou quadro da empresa e muito menos me pagam para emitir opiniões. Geralmente aceno se estou de acordo ou franzo o sobrolho se me choco facilmente com um projecto específico.
O Zé diz que eu sou como a "prata da casa" e que assim não tem de pagar a Consultoras com nomes sonantes no mercado.
E diz que eu sou como um barómetro silencioso, uma Cassandra com um instituto assassino para os negócios.
Ele acha que eu desenvolvi esta vertente patológica para delinear estratégias empresariais a preço zero nas minhas viagens no 44 da Carris. Deve ser por isso que me paga o Passe (Metro incluído) todos os meses. Eu respondo e aceno com a cabeça (muito Diana Ross) que o 44 é um exercício sociológico da realidade portuguesa porque percorre em algumas meias-horas o tecido industrial e a economia de serviços dos Alfacinhas que suam a estopinhas.
"Vai do Luxo ao Lixado", como diz a Maria. E eu lá vou do Parque das Nações ao Cais do Sodré. Nestes momentos de rara e serena contemplação à janela de um autocarro ausculta-se a realidade dos Lisboetas de gema ou dos patos-bravos ocasionais (passageiros muito pouco frequentes). Quando paramos no Hospital dos SAMS nos Olivais entram dezenas de carpideiras com dores tão fortes que o coro de vozes femininas da Bulgária quase perdia mercado no vinil. No Aeroporto entram Comissários de Bordo e Hospedeiras cheias de sono e já com maquilhagem de três dias. Na Avenida do Brasil entram empregados de escritório e os seus respectivos empregados internos de passeio a Alvalade. Olívias Patroas e Olívias Costureiras. E depois são as Avenidas Novas numa loucura de trânsito até à Avenida da Liberdade. No Marquês de Pombal o autocarro apanha sempre turistas com "pelotas" da Camper que fazem imensas perguntas sem nexo tipo "good restaurant with grilled sardines nearby?" e há sempre alguma hospedeira que começa a gritar com o motorista e diz que está atrasada para ir cortar o cabelo ao Patrick e fazer as unhas no Sérgio e Margarida.
No Rossio apanhamos carteiristas e depois não paramos até ao Cais do Sodré. Jogo limpo.
O Zé Eduardo tem razão. Eu mereço que ele me pague o Passe Combinado até atingir a idade de reforma e poder viajar de graça.
Uma boa crónica feminina...
Hoje tenho almoço marcado com a Inês e a Maria. Vai ser engraçado. Já não estamos os três juntos há algumas semanas e a última vez a discussão foi acesa. As duas têm uma relação de amor-ódio e não podem ser deixadas sem acompanhamento solidário na mesma esplanada. Salta faísca e o tom da conversa é audível no Castelo dos Mouros em Sintra. Já nos bancos de escola era assim. Ora se adoram e trocam dicas sobre a próxima tonalidade do verniz Chanel a comprar (quando eram crianças era da Cibelle e de proveniência duvidosa do armário das mães), ora desatam em discussões acesas sobre política e sociedade.
Das últimas vezes também têm discutido sobre desporto porque ambas casaram com desportistas ferrenhos (Bowling aos fins-de-semana).
Acho que a última discussão foi sobre os livros do Mia Couto. Ou sobre correntes do colonialismo nos ensaios do Coetzee. Não me lembro muito bem porque a meio da conversa a Maria soltou uma bomba. Disse a alto e bom som que estava a pensar comprar uma Birkin Vintage e que já tinha feito "diligências". A Inês, furiosa como se todo o petróleo do mundo se tivesse evaporado e precisasse de encher o depósito para ir a Monte Carlo, ficou como perdida num muro de lamentações silenciosas. Eu achei que tinha sido a última gota num deserto de emoções fortes. A Birkin tem sido território exclusivo da Inês há anos sem fim e ninguém estava à espera de um desfecho destes. As mulheres partilham tudo menos o usufruto e o bambolear sensual de uma mala. Esta era "A" mala a passear na Avenida da Liberdade ao final da tarde ou no Porto de Santa Maria no Guincho na hora da sobremesa.
O segredo para conseguir saldos e promoções especiais em qualquer loja fora dos períodos habituais, a porta de entrada em grande em qualquer restaurante "completamente cheio" e fechado para reservas nos "próximos seis anos".
A Birkin era para a Inês aquilo que o David Gandy é para os Super-Modelos masculinos. Noutro patamar e esquina da vida.
Agora é que a Maria ia fazer estalar o verniz, pensei eu para os meus botões Massimo Dutti. Ela continuou com o seu discurso planeado ao milímetro e confirmou que "A" mala estava quase a chegar de um Souk das Arábias. Como o marido está sempre no Dubai a trabalho pensei que era um presente caro para compensar as férias do ano passado no Algarve (um desastre). Parece que não. A Maria vai pagar ela própria por este "mimo" e diz que não vê a hora de tocar no objecto e sentir o cheiro do couro bem trabalhado. Acho que a Inês se sentiu muito mal na dita ocasião porque não parava de tocar na minha perna de forma veemente. Ainda hoje sinto dores.
Das últimas vezes também têm discutido sobre desporto porque ambas casaram com desportistas ferrenhos (Bowling aos fins-de-semana).
Acho que a última discussão foi sobre os livros do Mia Couto. Ou sobre correntes do colonialismo nos ensaios do Coetzee. Não me lembro muito bem porque a meio da conversa a Maria soltou uma bomba. Disse a alto e bom som que estava a pensar comprar uma Birkin Vintage e que já tinha feito "diligências". A Inês, furiosa como se todo o petróleo do mundo se tivesse evaporado e precisasse de encher o depósito para ir a Monte Carlo, ficou como perdida num muro de lamentações silenciosas. Eu achei que tinha sido a última gota num deserto de emoções fortes. A Birkin tem sido território exclusivo da Inês há anos sem fim e ninguém estava à espera de um desfecho destes. As mulheres partilham tudo menos o usufruto e o bambolear sensual de uma mala. Esta era "A" mala a passear na Avenida da Liberdade ao final da tarde ou no Porto de Santa Maria no Guincho na hora da sobremesa.
O segredo para conseguir saldos e promoções especiais em qualquer loja fora dos períodos habituais, a porta de entrada em grande em qualquer restaurante "completamente cheio" e fechado para reservas nos "próximos seis anos".
A Birkin era para a Inês aquilo que o David Gandy é para os Super-Modelos masculinos. Noutro patamar e esquina da vida.
Agora é que a Maria ia fazer estalar o verniz, pensei eu para os meus botões Massimo Dutti. Ela continuou com o seu discurso planeado ao milímetro e confirmou que "A" mala estava quase a chegar de um Souk das Arábias. Como o marido está sempre no Dubai a trabalho pensei que era um presente caro para compensar as férias do ano passado no Algarve (um desastre). Parece que não. A Maria vai pagar ela própria por este "mimo" e diz que não vê a hora de tocar no objecto e sentir o cheiro do couro bem trabalhado. Acho que a Inês se sentiu muito mal na dita ocasião porque não parava de tocar na minha perna de forma veemente. Ainda hoje sinto dores.
terça-feira, 13 de julho de 2010
A importância de se chamar Ernesto...
Acabo de receber um SMS da Catarina com um convite inesperado. Esta semana temos jantar marcado com o Ernesto que acaba de chegar de Luanda.
O Ernesto e a Catarina sempre foram o meu casal preferido porque são em tudo o casal ideal. Já ultrapassaram a fasquia dos sete anos de convivência, já sabem os hábitos de cada um, bons e maus, já sabem de que lado da cama preferem dormir. Falam pouco mas bem, riem-se muito dos mesmos filmes, vêm as séries de televisão de forma cordata e acordada por horários de destaque. A Catarina não vê problemas que o Ernesto comente as curvas da Gisele Bundchen e o Ernesto acha perfeitamente natural que a Catarina sonhe com o Tom Brady ocasionalmente, especialmente de Inverno.
A Catarina e o Ernesto são o casal ideal, sim senhor.
Estão separados há dez anos. Nunca meteram os papéis do divórcio porque o regime de IRS vai compensando e o cão já está velho e não consegue escolher em que casa prefere assentar arraiais. Vivem em mini-apartamentos a poucos minutos de distância com empregada semanal e discreta, e há dias (talvez semanas inteiras) em que acabam por partilhar o leito dos escolhidos depois de uma refeição mais pesada ou de uma sessão na Cornucópia de Ibsen sem tradução em simultâneo.
Eu respondo à Catarina de imediato que estou cheio de saudades dos dois e espero que o Ernesto desta vez me tenha trazido um presente. Ela responde de volta e pelo tom de reticências faz saber que não devo ter muitas esperanças. Ela diz que ele anda muito esquecido, eu acho que ele envelheceu prematuramente por Angola nas plataformas petrolíferas de Cabinda.
O Ernesto e a Catarina sempre foram o meu casal preferido porque são em tudo o casal ideal. Já ultrapassaram a fasquia dos sete anos de convivência, já sabem os hábitos de cada um, bons e maus, já sabem de que lado da cama preferem dormir. Falam pouco mas bem, riem-se muito dos mesmos filmes, vêm as séries de televisão de forma cordata e acordada por horários de destaque. A Catarina não vê problemas que o Ernesto comente as curvas da Gisele Bundchen e o Ernesto acha perfeitamente natural que a Catarina sonhe com o Tom Brady ocasionalmente, especialmente de Inverno.
A Catarina e o Ernesto são o casal ideal, sim senhor.
Estão separados há dez anos. Nunca meteram os papéis do divórcio porque o regime de IRS vai compensando e o cão já está velho e não consegue escolher em que casa prefere assentar arraiais. Vivem em mini-apartamentos a poucos minutos de distância com empregada semanal e discreta, e há dias (talvez semanas inteiras) em que acabam por partilhar o leito dos escolhidos depois de uma refeição mais pesada ou de uma sessão na Cornucópia de Ibsen sem tradução em simultâneo.
Eu respondo à Catarina de imediato que estou cheio de saudades dos dois e espero que o Ernesto desta vez me tenha trazido um presente. Ela responde de volta e pelo tom de reticências faz saber que não devo ter muitas esperanças. Ela diz que ele anda muito esquecido, eu acho que ele envelheceu prematuramente por Angola nas plataformas petrolíferas de Cabinda.
O Luís Filipe é um caso sério...
O Luís Filipe diz que vai trabalhar para Kuala Lumpur num Call Center da Oracle. Já não sei bem se é da Oracle ou da HP, mas é seguramente um Call Center.
Para quem conhece o Luís desde a infância nada disto é novidade. Este rapaz sempre teve uma galáxia diferente de planetas e não tem sombra do mesmo sol que o comum dos mortais. Lembro-me como se fosse ontem da cara horrorizada da professora Maria do Carmo quando à pergunta "O que é que queres ser quando fores grande?" o Luís respondeu que queria ser domador de leões-marinhos no Sea World de Orlando na Flórida. Aos 7 anos de idade nenhuma criança sabia onde é que ficava a Flórida e muito menos o que era um leão-marinho.
O Luís levou uma nota negativa no trabalho de percepção pessoal e não teve lanche nesse dia. Fiquei amigo imediato do Luís nessa data memorável e nunca mais o larguei de vista. Até porque 2 metros de altura de um cinturão negro em Bushido (ou será Jiu-Jitsu?) não se perdem no horizonte.
Depois de vários "projectos" como vitrinista de roupa para criança que acabaram num incêndio na loja dos tios e de um café que só servia chás japoneses e fechou passado um mês, já nos tínhamos habituado ao novo e estimulante "projecto" do Luís a cada mês.
Desta vez o tipo trocou-nos as voltas e deixou-nos a ver um vídeoclip da Lady Gaga em fast forward.
Eu, que já sei os cantos à casa, pergunto ingénuamente se o Call Center é certificado pela SAP e se tem licença de CRM. Ele responde tranquilamente que o Call Center é apenas um atalho rápido para atingir um objectivo mais complexo. Diz que quer trabalhar com primatas nas florestas do Borneo porque leu o livro da Jane Goodall de uma assentada. "Ah", digo eu. "Está tudo explicado".
Para quem conhece o Luís desde a infância nada disto é novidade. Este rapaz sempre teve uma galáxia diferente de planetas e não tem sombra do mesmo sol que o comum dos mortais. Lembro-me como se fosse ontem da cara horrorizada da professora Maria do Carmo quando à pergunta "O que é que queres ser quando fores grande?" o Luís respondeu que queria ser domador de leões-marinhos no Sea World de Orlando na Flórida. Aos 7 anos de idade nenhuma criança sabia onde é que ficava a Flórida e muito menos o que era um leão-marinho.
O Luís levou uma nota negativa no trabalho de percepção pessoal e não teve lanche nesse dia. Fiquei amigo imediato do Luís nessa data memorável e nunca mais o larguei de vista. Até porque 2 metros de altura de um cinturão negro em Bushido (ou será Jiu-Jitsu?) não se perdem no horizonte.
Depois de vários "projectos" como vitrinista de roupa para criança que acabaram num incêndio na loja dos tios e de um café que só servia chás japoneses e fechou passado um mês, já nos tínhamos habituado ao novo e estimulante "projecto" do Luís a cada mês.
Desta vez o tipo trocou-nos as voltas e deixou-nos a ver um vídeoclip da Lady Gaga em fast forward.
Eu, que já sei os cantos à casa, pergunto ingénuamente se o Call Center é certificado pela SAP e se tem licença de CRM. Ele responde tranquilamente que o Call Center é apenas um atalho rápido para atingir um objectivo mais complexo. Diz que quer trabalhar com primatas nas florestas do Borneo porque leu o livro da Jane Goodall de uma assentada. "Ah", digo eu. "Está tudo explicado".
Safei-me de boa...
A Inês diz que não me liga há meses porque eu não estou no Facebook e por consequência lógica não existo na galáxia humana. Eu tento contrariar o argumento e contornar a questão mas a rapariga não desiste e tem anos de ginástica rítmica às costas e na barriga das pernas. Diz que perdi o baptizado do filho mais pequeno, o divórcio amigável do quarto marido, a morte da tartaruga no lago na casa de campo em Arraiolos e a publicação do primeiro romance.
A notícia do romance deixa-me sem palavras. "Publicaste um romance?", digo eu. "Onde é que se pode comprar?". Ela ri-se imenso e diz que agora os romances já não se imprimem e vendeu tudo a uma plataforma de publicação digital em Singapura. Eu confesso a minha surpresa e espanto e pergunto como é que posso aceder ao livro através do Google.
"Sabes dialecto da Sentosa?". "Não", respondo eu. Parece que a Inês se enganou e vendeu os direitos do livro para línguas pouco apetecíveis ou paladares mais exóticos. "E era sobre o quê?", tento indagar. "Sobre as correntes do pessimismo literário Europeu na transição do Iluminismo". "Ah, que interessante. Devem estar quase a traduzi-lo para Inglês e a discutirem a sua importância estratégica nos corredores da NATO em Bruxelas".
Ela faz um silêncio ameaçador e desata a rir a bandeiras despregadas (num bom vestido Balenciaga, apost) e estabelecemos uma trégua justa. Temos ambos imensas saudades um do outro e eu quero ver como é que ela se está a safar no quinto casamento, segunda tartaruga e um possível Best-Seller digital na Jamaica...
A notícia do romance deixa-me sem palavras. "Publicaste um romance?", digo eu. "Onde é que se pode comprar?". Ela ri-se imenso e diz que agora os romances já não se imprimem e vendeu tudo a uma plataforma de publicação digital em Singapura. Eu confesso a minha surpresa e espanto e pergunto como é que posso aceder ao livro através do Google.
"Sabes dialecto da Sentosa?". "Não", respondo eu. Parece que a Inês se enganou e vendeu os direitos do livro para línguas pouco apetecíveis ou paladares mais exóticos. "E era sobre o quê?", tento indagar. "Sobre as correntes do pessimismo literário Europeu na transição do Iluminismo". "Ah, que interessante. Devem estar quase a traduzi-lo para Inglês e a discutirem a sua importância estratégica nos corredores da NATO em Bruxelas".
Ela faz um silêncio ameaçador e desata a rir a bandeiras despregadas (num bom vestido Balenciaga, apost) e estabelecemos uma trégua justa. Temos ambos imensas saudades um do outro e eu quero ver como é que ela se está a safar no quinto casamento, segunda tartaruga e um possível Best-Seller digital na Jamaica...
Tenho saudades não sei bem de quê...
Hoje acordei com uma clara sensação de que me faltava algo. Primeiro pensei que era o lençol porque com tanto calor e volta na cama não há tecido de alta qualidade que aguente e mais vale apostar por linho do Sri-Lanka. Depois pensei que me tinha esquecido do alarme do despertador mas desde que cortei a antena de terra do rádio já não tenho esse problema.
Também deixei de ter música ao raiar do dia mas digo a toda a gente que é por solidariedade com o encerro do Rádio Clube Português. Logo de seguida, e já no duche, pensei que tinha sido o gel de banho porque já só havia sabonete (de muito boa qualidade) da Ach Brito. E depois fez-se luz, mesmo mesmo muita luz, e repentina, porque o candeeiro explodiu. Ou isso ou não paguei a conta da EDP este mês porque me esqueci. Se calhar é isso, a EDP, digo...
Mas depois do banho e do pequeno-almoço habitual tenho a certeza que agora já sei do que tenho saudades. Tenho saudades de Buenos Aires. Não sei porquê mas tenho. Acho que sonhei com isso e com as casas de alguns amigos em Palermo Viejo ou na Recoleta. Ou no Parque de las Heras ao final da tarde quando vão todos passear os cães. A Maria diz que eu sou um palerma e que tenho sonhos de rico. Eu não importo lá muito com esta afirmação. Se sonho com Buenos Aires dá-me uma estranha alegria de lá ter passado alguns dos melhores momentos da minha vida, ter comido em San Telmo com o casal mais bonito ao cimo da terra, ter perdido o último metro uma noite e ter de percorrer as ruas desertas até chegar a casa, ter comprado livros em Avellaneda por alguns pesos e perceber que metade das folhas estava rasgada ou colada ao contrário.
A Maria diz que nunca teve vontade de ir à Argentina porque é muito longe e é muito cansativo. Nem com barbitúricos lá ia, diz ela. Eu acho que ela se perdia no campo de Pólo de Palermo com a turma do Nacho Figueras e do Cambiaso e deixava o marido a ver corridas de cavalos. Ela, que me percebe bem, diz que me vai comprar uma camisa do Ralph Lauren nos saldos do El Corte Inglés...
Também deixei de ter música ao raiar do dia mas digo a toda a gente que é por solidariedade com o encerro do Rádio Clube Português. Logo de seguida, e já no duche, pensei que tinha sido o gel de banho porque já só havia sabonete (de muito boa qualidade) da Ach Brito. E depois fez-se luz, mesmo mesmo muita luz, e repentina, porque o candeeiro explodiu. Ou isso ou não paguei a conta da EDP este mês porque me esqueci. Se calhar é isso, a EDP, digo...
Mas depois do banho e do pequeno-almoço habitual tenho a certeza que agora já sei do que tenho saudades. Tenho saudades de Buenos Aires. Não sei porquê mas tenho. Acho que sonhei com isso e com as casas de alguns amigos em Palermo Viejo ou na Recoleta. Ou no Parque de las Heras ao final da tarde quando vão todos passear os cães. A Maria diz que eu sou um palerma e que tenho sonhos de rico. Eu não importo lá muito com esta afirmação. Se sonho com Buenos Aires dá-me uma estranha alegria de lá ter passado alguns dos melhores momentos da minha vida, ter comido em San Telmo com o casal mais bonito ao cimo da terra, ter perdido o último metro uma noite e ter de percorrer as ruas desertas até chegar a casa, ter comprado livros em Avellaneda por alguns pesos e perceber que metade das folhas estava rasgada ou colada ao contrário.
A Maria diz que nunca teve vontade de ir à Argentina porque é muito longe e é muito cansativo. Nem com barbitúricos lá ia, diz ela. Eu acho que ela se perdia no campo de Pólo de Palermo com a turma do Nacho Figueras e do Cambiaso e deixava o marido a ver corridas de cavalos. Ela, que me percebe bem, diz que me vai comprar uma camisa do Ralph Lauren nos saldos do El Corte Inglés...
Ao final da tarde todos os gatos são pardos...
São quase oito da noite e estou a dar cabo de uma caixa de bolos da Versailles.
O Zé Eduardo diz que não percebe como é que eu não engordo com tanto bolinho húngaro (adoro!) com recheio de geleia, eu acho apenas que o meu corpo responde da mesma maneira que os soutiens ao peito da Pamela Anderson - adapta-se às circunstâncias. O Zé não percebe o trocadilho e diz que tem de desligar o telefone porque a empregada brasileira ainda não voltou do Sarau na Casa da América Latina e está em casa com os miúdos sem qualquer apoio emocional. Depois do incidente de ontem com os peixes acho que agora vão atacar o porquinho da Índia. O Zé diz que não o vê há semanas e que as crianças estão convencidas que hibernou fora de época, assim como os jogadores de futebol nas praias de Vilamoura. Eu faço figas para que o porquinho tenha sobrevivido às lições do Dr. House do Rodrigo e não tenha ido desta para melhor. E acabo o último bolo. Ora bolas, ainda agora estava a começar e já estou sem nada para trincar. Abro o frigorífico e dou de caras com duas gelatinas. Acho que prefiro Ursinhos da Haribo. Bem, desligo o telefone e vou ver televisão que os telejornais hoje prometem. Acho que a Espanha é campeã mundial de futebol. Ou é isso ou houve manifestações gigantescas de apoio ao Ronaldo para Presidente em Madrid. Ah, e tenho o gato da vizinha no parapeito a olhar cá para dentro, daí o título da mensagem...não estou assim tão imaginativo...
O Zé Eduardo diz que não percebe como é que eu não engordo com tanto bolinho húngaro (adoro!) com recheio de geleia, eu acho apenas que o meu corpo responde da mesma maneira que os soutiens ao peito da Pamela Anderson - adapta-se às circunstâncias. O Zé não percebe o trocadilho e diz que tem de desligar o telefone porque a empregada brasileira ainda não voltou do Sarau na Casa da América Latina e está em casa com os miúdos sem qualquer apoio emocional. Depois do incidente de ontem com os peixes acho que agora vão atacar o porquinho da Índia. O Zé diz que não o vê há semanas e que as crianças estão convencidas que hibernou fora de época, assim como os jogadores de futebol nas praias de Vilamoura. Eu faço figas para que o porquinho tenha sobrevivido às lições do Dr. House do Rodrigo e não tenha ido desta para melhor. E acabo o último bolo. Ora bolas, ainda agora estava a começar e já estou sem nada para trincar. Abro o frigorífico e dou de caras com duas gelatinas. Acho que prefiro Ursinhos da Haribo. Bem, desligo o telefone e vou ver televisão que os telejornais hoje prometem. Acho que a Espanha é campeã mundial de futebol. Ou é isso ou houve manifestações gigantescas de apoio ao Ronaldo para Presidente em Madrid. Ah, e tenho o gato da vizinha no parapeito a olhar cá para dentro, daí o título da mensagem...não estou assim tão imaginativo...
Vícios inconfessáveis...
A Maria diz que agora está na moda termos vícios inconfessáveis. Como estamos a tomar o pequeno-almoço numa esplanada pública olho para o lado para verificar cuidadosamente quem nos possa ouvir e delatar. Ela continua nesta incursão pelas falácias da vida (e da Haute-Couture em Paris) e diz que vai viciar-se em qualquer coisa. Como nunca esperei ouvir estas palavras começo a antecipar o pior. Ela diz, tranquilamente, que eu não tenho nada com que me preocupar. O vício dela vai sair barato e é chique. Diz que se vai viciar em Ferrero Rocher e que vai ser a desculpa perfeita para o marido pagar a todos uma semana na Betty Ford na Califórnia.
Eu fico branco como a cal quando ela olha para mim e me pergunta qual vai ser o meu vício inconfessável. Em alguns segundos vem-me tudo à cabeça. Sapatos da Berluti, carteiras de fundos de investimento do Citigroup, acções da Nestlé, livros sobre cozinha molecular, fotografias eróticas de estrelas de telenovelas mexicanas. Depois, com ar decidido, digo-lhe com alguma rancor que estou magoado por ela nunca se ter apercebido do meu vício já antigo.
"Revistas?", diz ela. "Mas quem é que se vicia em revistas?". E assim trama-me mais uma vez. É verdade que nem eu sei de onde é que saiu esta necessidade de fazer montinhos de revistas (estrangeiras, caras e muitas vezes repetidas, por sinal) por toda a casa em pilhas de Design de Interiores. Acho que desde pequeno me decidi a coleccionar informação e o vício foi crescendo. Já não bastava não ter sítio para colocar tanto papel como agora vem a Maria e diz que o meu vício está desactualizado.
Ainda penso em dizer que também sou viciado em Chocapic desde criança mas acabo por dar-me como derrotado.
A Maria tem uma força interior impossível de combater e está obstinada. Quer convencer-me que eu estou passado da actualidade e que me devo curar com um novo vício.
Digo-lhe que vou pensar no assunto enquanto termino a minha meia de leite já fria.
E "ódios de estimação?" pergunto eu. "Tens algum inconfessável?".
Ela diz que não, que se deixou disso quando foi à bruxa e tomou um banho de sal grosso. Eu acho estranho e desconfio. Afinal todos nós temos ódios de estimação. Ela acha estranha a minha insistência e diz que se libertou das energias negativas e não consegue não gostar de ninguém. Eu, pelo contrário, já estive mais longe desta afirmação. E então disparo com os meus ódios pessoais. Digo-lhe que odeio quando me entornam o café com leite na chávena, quando vou na rua e encontro alguém que anda aos círculos e muito, muito lento, quando apanho alguém num posto de informação da Carris ou da Segurança Social que decide perguntar onde é que se pode encontrar um ensaio sobre a Susan Sontag em japonês, quando descubro que existem pessoas que não gostam do Nanni Moretti e embirram com os livros da Chelsea Handler. E digo-lhe que odeio pessoas pseudo-frontais. Aquelas que dizem tudo com "total" sinceridade e dizem que não conseguem dissimular ou mentir. E não conseguem "conter-se". E dizem tudo "na cara". Yeah, right....
Ah, e odeio pessoas que adoram iogurtes. Não sei porquê mas desconfio de toda a gente que se delicia com iogurtes e mais ainda todos aqueles que fazem disso o almoço ou jantar. A Maria diz que é por isso que nunca vou trabalhar na Danone. Eu acho que é porque nunca mandei a minha fotografia actual e de perfil no Curriculum Vitae...
Eu fico branco como a cal quando ela olha para mim e me pergunta qual vai ser o meu vício inconfessável. Em alguns segundos vem-me tudo à cabeça. Sapatos da Berluti, carteiras de fundos de investimento do Citigroup, acções da Nestlé, livros sobre cozinha molecular, fotografias eróticas de estrelas de telenovelas mexicanas. Depois, com ar decidido, digo-lhe com alguma rancor que estou magoado por ela nunca se ter apercebido do meu vício já antigo.
"Revistas?", diz ela. "Mas quem é que se vicia em revistas?". E assim trama-me mais uma vez. É verdade que nem eu sei de onde é que saiu esta necessidade de fazer montinhos de revistas (estrangeiras, caras e muitas vezes repetidas, por sinal) por toda a casa em pilhas de Design de Interiores. Acho que desde pequeno me decidi a coleccionar informação e o vício foi crescendo. Já não bastava não ter sítio para colocar tanto papel como agora vem a Maria e diz que o meu vício está desactualizado.
Ainda penso em dizer que também sou viciado em Chocapic desde criança mas acabo por dar-me como derrotado.
A Maria tem uma força interior impossível de combater e está obstinada. Quer convencer-me que eu estou passado da actualidade e que me devo curar com um novo vício.
Digo-lhe que vou pensar no assunto enquanto termino a minha meia de leite já fria.
E "ódios de estimação?" pergunto eu. "Tens algum inconfessável?".
Ela diz que não, que se deixou disso quando foi à bruxa e tomou um banho de sal grosso. Eu acho estranho e desconfio. Afinal todos nós temos ódios de estimação. Ela acha estranha a minha insistência e diz que se libertou das energias negativas e não consegue não gostar de ninguém. Eu, pelo contrário, já estive mais longe desta afirmação. E então disparo com os meus ódios pessoais. Digo-lhe que odeio quando me entornam o café com leite na chávena, quando vou na rua e encontro alguém que anda aos círculos e muito, muito lento, quando apanho alguém num posto de informação da Carris ou da Segurança Social que decide perguntar onde é que se pode encontrar um ensaio sobre a Susan Sontag em japonês, quando descubro que existem pessoas que não gostam do Nanni Moretti e embirram com os livros da Chelsea Handler. E digo-lhe que odeio pessoas pseudo-frontais. Aquelas que dizem tudo com "total" sinceridade e dizem que não conseguem dissimular ou mentir. E não conseguem "conter-se". E dizem tudo "na cara". Yeah, right....
Ah, e odeio pessoas que adoram iogurtes. Não sei porquê mas desconfio de toda a gente que se delicia com iogurtes e mais ainda todos aqueles que fazem disso o almoço ou jantar. A Maria diz que é por isso que nunca vou trabalhar na Danone. Eu acho que é porque nunca mandei a minha fotografia actual e de perfil no Curriculum Vitae...
O Zé anda a passar-se...
São nove da noite e nem consigo comer o meu prato habitual de espargete com atum (desta vez com um toque de açafrão com 50% de desconto em Cartão Continente a partir de 15 de Agosto) ou beber o meu sumo de toranja descansado.
Fiquei tão nervoso que em vez de "prato" ia escrevendo "parto" e parecia que estava a comunicar mais um nascimento de um rebento do Júlio Iglesias em Punta Cana com a sua eterna e loura Miranda (com este nome ou era hospedeira da KLM ou relações públicas dos Pauliteiros).
O Zé ligou-me enfurecido e diz que as crianças partiram o I-Pod que tinham comprado na Apple da Quinta Avenida em NYC (indicação minha, obviamente) e lançaram os peixes vermelhos do aquário de água fria pela janela do terceiro andar.
A verdade é que as crianças já não são o que eram e se antes se atiravam os peixes pela sanita comme il faut, agora é borda-fora da janela do condomínio fechado em Belas com eles.
Eu, optimista por natureza quando estou esfomeado ou nas paragens de autocarro à espera do 44 (isto nunca mais chega...devem estar em greve outra vez) tento dizer que se calhar os peixes tiveram a sorte de cair na ribeira ou no lago do campo de golf, e que o I-Pod se calhar tem arranjo numa das lojas chinesas do Martim Moniz. Mas o Zé não arreda pé e acha que as crianças têm de ir para um Colégio Interno em Kiev ou para os Pupilos do Exército.
Parece que agora já não se vai para a Suíça, é a crise internacional e os escândalos da UBS.
Acho que ele perdeu a cabeça, coitado. Já estava a imaginar a Mafalda a vestir-se de soldadinho de chumbo e o Rodrigo a encerar as botas com Creme Barral muito gordo.
Tento fazer-me ouvir.... "Ó Zé, acalma-te, os míudos são assim". Mas ele não quer saber nada das minhas doces e inocentes palavras e está para escrever um novo mandamento no Monte Sinai. As crianças precisam de disciplina, diz ele, e vai acabar com os CDs da Hannah Montana e dos Morangos com Açúcar. Acabam-se também as férias em Port Aventura em Agosto e o Natal na Ilha Mágica de Sevilha.
Do mal o menos, as crinças apanhavam sempre uma barrigada de Torrón de Alicante e de Churros com chocolate e passam horas na minha casa de banho (claro, directas para a minha casa...) a fazer pinturas com algo mais que lápis da Viarco.
Já estou a imaginar a desgraça e a choradeira. E vai sobrar para mim seguramente. Mais sessões de cinema com os miúdos enquanto os pais vão para Cascais "arejar" e eu fico pela sala escura a fingir que percebo porque é que o Shrek já vai em quatro capítulos e anda com um gato das botas e um burro que fala. Se ainda fosse a versão cinematográfica da vida escabrosa da Tuxa no Dubai ou da Barbie Havaiana ainda lá vá. "Têm a certeza que os miúdos não gostam de um ciclo de cinema Argentino no King? Acho que dá para ver em 3D...".
Por isso decido avançar com terapia de choque. Prometo comprar um novo I-Pod numa próxima visita a NYC (quando vender o mobiliário todo de casa e um livro de receitas tântricas por acabar no Ebay)e a substituir já esta semana os peixinhos vermelhos por outros laranja (já a pensar no resultado das próximas eleições não vá tudo acabar em escabeche).
Os miúdos jubilam de alegria (e partem uma cadeira e uma mesa de apoio com uma jarra de Murano), o pai fica comovido e eu acabo o espargete já frio.
Assim não engordo. Vou ver o "Querido Mudei a Casa" porque perdi a última repetição pela centésima vez e preciso de saber como se monta um escadote. Se calhar já só vou a tempo de ver a Tyra Banks. É a vida...
Fiquei tão nervoso que em vez de "prato" ia escrevendo "parto" e parecia que estava a comunicar mais um nascimento de um rebento do Júlio Iglesias em Punta Cana com a sua eterna e loura Miranda (com este nome ou era hospedeira da KLM ou relações públicas dos Pauliteiros).
O Zé ligou-me enfurecido e diz que as crianças partiram o I-Pod que tinham comprado na Apple da Quinta Avenida em NYC (indicação minha, obviamente) e lançaram os peixes vermelhos do aquário de água fria pela janela do terceiro andar.
A verdade é que as crianças já não são o que eram e se antes se atiravam os peixes pela sanita comme il faut, agora é borda-fora da janela do condomínio fechado em Belas com eles.
Eu, optimista por natureza quando estou esfomeado ou nas paragens de autocarro à espera do 44 (isto nunca mais chega...devem estar em greve outra vez) tento dizer que se calhar os peixes tiveram a sorte de cair na ribeira ou no lago do campo de golf, e que o I-Pod se calhar tem arranjo numa das lojas chinesas do Martim Moniz. Mas o Zé não arreda pé e acha que as crianças têm de ir para um Colégio Interno em Kiev ou para os Pupilos do Exército.
Parece que agora já não se vai para a Suíça, é a crise internacional e os escândalos da UBS.
Acho que ele perdeu a cabeça, coitado. Já estava a imaginar a Mafalda a vestir-se de soldadinho de chumbo e o Rodrigo a encerar as botas com Creme Barral muito gordo.
Tento fazer-me ouvir.... "Ó Zé, acalma-te, os míudos são assim". Mas ele não quer saber nada das minhas doces e inocentes palavras e está para escrever um novo mandamento no Monte Sinai. As crianças precisam de disciplina, diz ele, e vai acabar com os CDs da Hannah Montana e dos Morangos com Açúcar. Acabam-se também as férias em Port Aventura em Agosto e o Natal na Ilha Mágica de Sevilha.
Do mal o menos, as crinças apanhavam sempre uma barrigada de Torrón de Alicante e de Churros com chocolate e passam horas na minha casa de banho (claro, directas para a minha casa...) a fazer pinturas com algo mais que lápis da Viarco.
Já estou a imaginar a desgraça e a choradeira. E vai sobrar para mim seguramente. Mais sessões de cinema com os miúdos enquanto os pais vão para Cascais "arejar" e eu fico pela sala escura a fingir que percebo porque é que o Shrek já vai em quatro capítulos e anda com um gato das botas e um burro que fala. Se ainda fosse a versão cinematográfica da vida escabrosa da Tuxa no Dubai ou da Barbie Havaiana ainda lá vá. "Têm a certeza que os miúdos não gostam de um ciclo de cinema Argentino no King? Acho que dá para ver em 3D...".
Por isso decido avançar com terapia de choque. Prometo comprar um novo I-Pod numa próxima visita a NYC (quando vender o mobiliário todo de casa e um livro de receitas tântricas por acabar no Ebay)e a substituir já esta semana os peixinhos vermelhos por outros laranja (já a pensar no resultado das próximas eleições não vá tudo acabar em escabeche).
Os miúdos jubilam de alegria (e partem uma cadeira e uma mesa de apoio com uma jarra de Murano), o pai fica comovido e eu acabo o espargete já frio.
Assim não engordo. Vou ver o "Querido Mudei a Casa" porque perdi a última repetição pela centésima vez e preciso de saber como se monta um escadote. Se calhar já só vou a tempo de ver a Tyra Banks. É a vida...
A minha amiga Maria
A minha amiga Maria diz que a vida não está fácil. E que o mundo está de pernas para o ar.
A Maria tem destas coisas, diz tudo o que lhe vem à cabeça em jeito de profecia ou ensaio filosófico e deixa-nos a todos a pensar seriamente no assunto.
Não por muito tempo que a vida não está fácil e o tempo é dinheiro que se pode gastar no Starbucks em créditos futuros. Como a Bolsa e os Fundos de Investimento na Bolívia e Argentina parece que não dão nada (só dores de cabeça) mais vale investir em cafeína internacional e de origem controlada.
Eu cá penso que esta nova incursão da Maria se deve à paixão actual e desmedida por aulas de Yoga num centro pouco apto para suores frios no Monte Estoril com um antigo e auto-intitulado guru da Oprah, e por ter feito muitos pinos quando era criança nas aulas de ginástica das Doroteias antes de ser expulsa por se recusar a comer o puré de batata três vezes seguidas. E os croquetes congelados....e os pêssegos em calda já moles e sem graça...
A Maria acha que o mundo está sempre ao contrário, já nos habituámos ao género e vocabulário. É raro darmos importância ao assunto, a não ser que os pinos habituais acabem por fazer sentido. O Zé ficou a pensar nisto demasiado tempo, o que também é estranho e raro num homem de negócios sábio e bem sucedido (terceiro casamento, duas crianças adoráveis nos Maristas e dois carros na oficina por arranjar com umas pancadinhas sem importância). Acho que foi inveja pelo gigantismo do BMW descapotável.
Este é um trio interessante e sabido da vida.
A Maria deu para "Tia" há alguns anos com um casamento de conveniência planeado ao milímetro como o bordado do vestido comprado na Colette em Paris. Passa o dia em caçadas no Alentejo ou em festas de solidariedade com adolescentes problemáticos do Benim. Quando não tem horas ou obrigações a cumprir lá vai dando para almoçarmos e trocarmos umas ideias sobre o assunto. É a parte mais engraçada do meu dia e acabamos sempre no mesmo sítio e com a mesma despedida: "tanto por dizer e tão pouco tempo". Enfim, a Maria corre pela vida como uma lebre de classe enquanto eu vou a passo de tartaruga premiada num festival de circo. Dá para imaginar o tom da conversa semanal. Os empregados de qualquer restaurante ou pastelaria já nos conhecem e tratam-nos como uma família estranha mas abastada. Deve ser pelas gorjetas da Maria que a vida está pela hora da morte e por mim nem um Euro deixava (dá para o bilhete de Metro no regresso).
A outra presença nos almoços da "conversa (a)fiada" chega sempre atrasado e nunca paga a conta.
Ou se esquece da carteira Zegna, ou o sapato Prada está apertado (nunca percebi a relação com a factura em cima da mesa), ou um dos filhos liga a dizer / gritar / chorar que comeu um Gormiti (quando é que os bonecos passaram a ter este nome?) com pastilha elástica da Gorila.
Pobre Zé Eduardo, tão promissor que ele era...
O Zé acabou por subir na vida sem grande esforço e muitas horas ao computador a inventar "gadgets" impronunciáveis nas feiras de tecnologia de Seoul (ou será Nagoya?), e eu continuo sentado à espera que um milagre aconteça.
Seguramente não vai acontecer porque não só não acredito em milagres como nunca tive boa postura nem em cadeiras nem em sofás (vida de marreco a olhar para o boneco como diz a minha avó).
Eu acho que é a vida, como diz a Maria, hoje de pernas para o ar, amanhã com um perneta, amanhã de perna ao léu...
A Maria tem destas coisas, diz tudo o que lhe vem à cabeça em jeito de profecia ou ensaio filosófico e deixa-nos a todos a pensar seriamente no assunto.
Não por muito tempo que a vida não está fácil e o tempo é dinheiro que se pode gastar no Starbucks em créditos futuros. Como a Bolsa e os Fundos de Investimento na Bolívia e Argentina parece que não dão nada (só dores de cabeça) mais vale investir em cafeína internacional e de origem controlada.
Eu cá penso que esta nova incursão da Maria se deve à paixão actual e desmedida por aulas de Yoga num centro pouco apto para suores frios no Monte Estoril com um antigo e auto-intitulado guru da Oprah, e por ter feito muitos pinos quando era criança nas aulas de ginástica das Doroteias antes de ser expulsa por se recusar a comer o puré de batata três vezes seguidas. E os croquetes congelados....e os pêssegos em calda já moles e sem graça...
A Maria acha que o mundo está sempre ao contrário, já nos habituámos ao género e vocabulário. É raro darmos importância ao assunto, a não ser que os pinos habituais acabem por fazer sentido. O Zé ficou a pensar nisto demasiado tempo, o que também é estranho e raro num homem de negócios sábio e bem sucedido (terceiro casamento, duas crianças adoráveis nos Maristas e dois carros na oficina por arranjar com umas pancadinhas sem importância). Acho que foi inveja pelo gigantismo do BMW descapotável.
Este é um trio interessante e sabido da vida.
A Maria deu para "Tia" há alguns anos com um casamento de conveniência planeado ao milímetro como o bordado do vestido comprado na Colette em Paris. Passa o dia em caçadas no Alentejo ou em festas de solidariedade com adolescentes problemáticos do Benim. Quando não tem horas ou obrigações a cumprir lá vai dando para almoçarmos e trocarmos umas ideias sobre o assunto. É a parte mais engraçada do meu dia e acabamos sempre no mesmo sítio e com a mesma despedida: "tanto por dizer e tão pouco tempo". Enfim, a Maria corre pela vida como uma lebre de classe enquanto eu vou a passo de tartaruga premiada num festival de circo. Dá para imaginar o tom da conversa semanal. Os empregados de qualquer restaurante ou pastelaria já nos conhecem e tratam-nos como uma família estranha mas abastada. Deve ser pelas gorjetas da Maria que a vida está pela hora da morte e por mim nem um Euro deixava (dá para o bilhete de Metro no regresso).
A outra presença nos almoços da "conversa (a)fiada" chega sempre atrasado e nunca paga a conta.
Ou se esquece da carteira Zegna, ou o sapato Prada está apertado (nunca percebi a relação com a factura em cima da mesa), ou um dos filhos liga a dizer / gritar / chorar que comeu um Gormiti (quando é que os bonecos passaram a ter este nome?) com pastilha elástica da Gorila.
Pobre Zé Eduardo, tão promissor que ele era...
O Zé acabou por subir na vida sem grande esforço e muitas horas ao computador a inventar "gadgets" impronunciáveis nas feiras de tecnologia de Seoul (ou será Nagoya?), e eu continuo sentado à espera que um milagre aconteça.
Seguramente não vai acontecer porque não só não acredito em milagres como nunca tive boa postura nem em cadeiras nem em sofás (vida de marreco a olhar para o boneco como diz a minha avó).
Eu acho que é a vida, como diz a Maria, hoje de pernas para o ar, amanhã com um perneta, amanhã de perna ao léu...
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