domingo, 5 de setembro de 2010

Os Gurus de auto-ajuda precisam do nosso apoio ocasional...

A Inês diz que já não passa sem os conselhos do Guru Indiano (parece que de Varanasi mas a Inês não se lembra muito bem) que uma amiga recomendou no Verão passado. Deve ter sido mesmo há muito tempo porque o Verão este ano veio para ficar para mal dos meus pecados. A Inês diz que o Guru é um santo e que mudou completamente a visão que ela tem do mundo. E da vida. E dos cães. E dos colegas de trabalho. Também da comida macrobiótica. Enfim, o Guru mudou a vida da Inês. Eu olho e oiço desconfiado este tipo de discurso apaixonado porque a Inês muda de vida (e de visão sobre a mesma) a cada três meses. A Inês já viveu no tempo da Maria Antonieta, já foi soldado (homem) na corte do Henrique VIII, já foi corretora de seguros em Bombaim no século XIX e já bordou saias na Escandinávia dos anos 30. A Inês, que acredita em reencarnações como na papa Milupa (de que era fã isenta) e no fermento para o pão multi-cereais que o Guru recomenda que ela compre no Celeiro, já viveu muito. Diz-se. Eu acredito. E subscrevo a vida na Corte Inglesa (que não no El Corte Inglés) sob o Henrique VIII (também lá estive, obviamente na nobreza iluminada e dotado de grandes recursos financeiros e uma veia para o mecenato artístico).
Mas agora é diferente, diz a Inês. Este Guru Indiano provou-lhe com um método infalível que ela não só já viveu muitas vezes como ainda vai viver muitas mais. É por isso que precisa de purificar-se. E rapidamente, diz ele. Eu pergunto como e quando e ela responde como se estivesse a preencher um questionário de Proust:
"Três colheres de xarope de seiva de pinheiro-manso à primeira hora da manhã, duas colheres de essência de rosa e gerânio às 17.00 PM misturada com chá-verde amargo, um banho de água fria às 21.00 PM seguido de três horas de meditação em posição flor-de-lótus sobre o soalho de madeira. Tem de ser sobre madeira porque o mármore não conduz bem a energia", diz ela.
A minha amiga parece convencida e diz que é outra mulher. Eu acho-a igual a ontem mas ela diz que esta purificação pode demorar anos. Talvez décadas. É uma purificação por fases. Por etapas. Como um Time-Share. A Inês diz também que o Guru Indiano é o mesmo que acompanhou os Beatles numa das suas visitas à Índia nos anos sessenta. Eu não vejo grande relevância nesta publicidade gratuita porque não só não gosto dos Beatles (que sacrilégio) como acho que eles ainda ficaram piores depois do retiro espiritual na Índia. A Inês diz que o Guru recomendou também que ela falasse com os animais que tem em casa como se tratassem de mais um elemento da família, e que acariciasse cada manhã cinco pedras de quartzo como se fosse um amante muito querido. Já estou a ver. Pagava para filmar a cena e vender ao Christophe Honoré. A Inês a gritar com os peixes no aquário e a exigir mais dinheiro como faz ao pai. A Inês a ralhar de forma cáustica e desorganizada com a Yorkshire Terrier como faz como a irmã. A Inês a olhar de forma sarcástica para o porquinho da Índia (curiosamente da terra-natal do Guru) como faz com a sobrinha. Ah, e a Inês em pose de diva alemã em suave decadência com roupa interior da Chantelle a acariciar cinco pedras reluzentes na cama como faz com a barba do namorado. Este Guru é mesmo bom. É fantástico até. É um Guru para a vida. Cobra 50 Euros por cada meia-hora e dá consultas no Martim Moniz. Só às Quartas-Feiras, no entanto. Esta semana não consigo lá ir.