Bloguista acidental que não acidentado (ninguém se feriu durante a criação do perfil e conta associada). Pequenas histórias de um quotidiano cheio de surpresas ao virar da esquina. Prémio Pulitzer de escrita criativa durante os últimos dez anos, sem excepção. Recomendado por milhares de escritores e críticos de Kuala Lumpur a Montevideo. Temido por alguns grupos de pressão. Talvez exagere.
domingo, 12 de setembro de 2010
As pessoas sérias são uma chatice...
O Zé Eduardo diz que anda muito preocupado. Outra vez. Nenhuma novidade, portanto. A última vez que o Zé andou muito preocupado teve algo que ver com a queda do mercado de capitais na Índia. Ou a quebra no preço do trigo na Rússia. Algo parecido. Quando nos encontramos para almoçar temo o pior. Temo saber em primeira mão que o mercado imobiliário na Bulgária já teve melhores dias ou que há grandes variações nos preços dos iogurtes de morango com poucas calorias na Suíça. Parece que não. Como detesto iogurtes teria de fingir uma enorme perplexidade e tristeza intransigente. Ainda bem. Afinal o Zé tem algo muito sério que partilhar à mesa. E não é apenas a salada de requeijão, tomate seco e agrião que eu como quase por inteiro (o Zé está de dieta desde que encontrou um Michelin de 5cm). Parece que o Zé já não é levado a sério pelo restrito grupo de trabalhadores que o admiravam como um Deus no Olimpo dos investidores de risco. Como um Zeus na berlinda. Como um berlinde na mão da Cassiopeia. Divago. O Zé diz que anda muito preocupado porque desde que começou a ser um bom patrão já ninguém o respeita. Desde que cumprimenta toda a gente e ri com piadas fáceis no café enquanto discute o Dow Jones ninguém lhe liga nenhuma. Que já ninguém o convida para fins-de-semana a navegar nas Berlengas ou para churrascos em Ponte de Lima. O Zé está em pânico. E diz que não sabe o que fazer. Eu, que até fui responsável por promover a sua atitude mais dócil no trabalho, tenho de admitir que também estou perdido e que nunca percebi esta obsessão Portuguesa pela seriedade e maquiavelismo dos nossos líderes de topo. Um líder em Portugal nunca pode sorrir. Nunca pode ser divertido. Nunca pode ser descontraído. Nem gostar de ler em demasia ou de ir ao cinema com frequência. Muito menos aos ciclos de cinema Francês no Nimas ou a eventos de moda de rua. E de ler a Máxima todos os meses. Ocasionalmente a DIF e a Parq. Os líderes em Portugal têm de ser sisudos, falar alto ao telemóvel que nunca deixam em paz e dar murros na mesa quando não gostam do que ouvem. Nunca estão presentes para uma reunião ou uma troca de impressões casual e bombardeiam toda a gente com emails desde casa e SMS desde Praga ou Berlim a meio da noite. Para provar que estão atentos e que trabalham muito. Até de noite. Os líderes em Portugal desconfiam também de quem é feliz e gosta de quadros com golfinhos ou pastores-alemães no escritório e a fotografia ocasional dos sobrinhos de férias no Algarve e exigem sangue, suor e lágrimas. Em fotografias do Helmut Newton, no entanto. Muito másculas. Ou recortes do Record e da Bola, nunca do Financial Times. Os líderes em Portugal têm de ter sempre uma opinião e nunca se enganam ou duvidam da justiça, justeza e singularidade das suas opções e visões estratégicas. Não falam muitas línguas porque basta saber o básico para se fazer entender. Numa lavandaria em Hong Kong ou num restaurante em Nápoles, provavelmente. Os líderes em Portugal são contra o caos e preferem o equilíbrio. O consenso. A parcimónia. O pânico. O medo. A inveja. Enfim, os líderes em Portugal são uma chatice. Uma seca como só em África. Têm restaurantes chatos e enfadonhos onde se reúnem, têm lojas onde compram camisas largas para disfarçar a barriga, têm ginásios onde disfarçam que adoram os vídeos da Jane Fonda e a própria Jane Fonda. Os nossos líderes têm de ser temidos e nunca adorados. Têm de gerar receio e pasmo, nunca gosto imediato ou paixão. O Zé Eduardo quer voltar a ser assim. O melhor líder do mundo. Temido, invejado, idolatrado por uma geração acabada de sair da faculdade que não percebe ao princípio mas cedo entra no jogo. E admira no futuro próximo. E promoverá com afinco. O Zé Eduardo diz também que está a pensar em deixar de usar creme pós-barbear de lavanda e rosmaninho da Patyka e passar para o After-Shave com álcool da Aramis de sempre. Os líderes em Portugal têm medo de ter pele macia e de cheirarem bem demais. Deve ser por isso que na sua grande maioria sonham com o Brad Pitt. Não em ser o Brad Pitt para as suas secretárias em pânico / aversão / incredulidade ao estilo Angelina Jolie. Sonham com o Brad Pitt no jacuzzi. Acontece a todos os líderes. Menos aos que se riem nas reuniões com os disparates de um Plano de Marketing ou com os Relatórios de Contas sem sentido. Brad Pitt, you´re welcome…
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