Acabo de receber um SMS da Catarina com um convite inesperado. Esta semana temos jantar marcado com o Ernesto que acaba de chegar de Luanda.
O Ernesto e a Catarina sempre foram o meu casal preferido porque são em tudo o casal ideal. Já ultrapassaram a fasquia dos sete anos de convivência, já sabem os hábitos de cada um, bons e maus, já sabem de que lado da cama preferem dormir. Falam pouco mas bem, riem-se muito dos mesmos filmes, vêm as séries de televisão de forma cordata e acordada por horários de destaque. A Catarina não vê problemas que o Ernesto comente as curvas da Gisele Bundchen e o Ernesto acha perfeitamente natural que a Catarina sonhe com o Tom Brady ocasionalmente, especialmente de Inverno.
A Catarina e o Ernesto são o casal ideal, sim senhor.
Estão separados há dez anos. Nunca meteram os papéis do divórcio porque o regime de IRS vai compensando e o cão já está velho e não consegue escolher em que casa prefere assentar arraiais. Vivem em mini-apartamentos a poucos minutos de distância com empregada semanal e discreta, e há dias (talvez semanas inteiras) em que acabam por partilhar o leito dos escolhidos depois de uma refeição mais pesada ou de uma sessão na Cornucópia de Ibsen sem tradução em simultâneo.
Eu respondo à Catarina de imediato que estou cheio de saudades dos dois e espero que o Ernesto desta vez me tenha trazido um presente. Ela responde de volta e pelo tom de reticências faz saber que não devo ter muitas esperanças. Ela diz que ele anda muito esquecido, eu acho que ele envelheceu prematuramente por Angola nas plataformas petrolíferas de Cabinda.
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