quarta-feira, 14 de julho de 2010

Uma boa crónica feminina...

Hoje tenho almoço marcado com a Inês e a Maria. Vai ser engraçado. Já não estamos os três juntos há algumas semanas e a última vez a discussão foi acesa. As duas têm uma relação de amor-ódio e não podem ser deixadas sem acompanhamento solidário na mesma esplanada. Salta faísca e o tom da conversa é audível no Castelo dos Mouros em Sintra. Já nos bancos de escola era assim. Ora se adoram e trocam dicas sobre a próxima tonalidade do verniz Chanel a comprar (quando eram crianças era da Cibelle e de proveniência duvidosa do armário das mães), ora desatam em discussões acesas sobre política e sociedade.
Das últimas vezes também têm discutido sobre desporto porque ambas casaram com desportistas ferrenhos (Bowling aos fins-de-semana).
Acho que a última discussão foi sobre os livros do Mia Couto. Ou sobre correntes do colonialismo nos ensaios do Coetzee. Não me lembro muito bem porque a meio da conversa a Maria soltou uma bomba. Disse a alto e bom som que estava a pensar comprar uma Birkin Vintage e que já tinha feito "diligências". A Inês, furiosa como se todo o petróleo do mundo se tivesse evaporado e precisasse de encher o depósito para ir a Monte Carlo, ficou como perdida num muro de lamentações silenciosas. Eu achei que tinha sido a última gota num deserto de emoções fortes. A Birkin tem sido território exclusivo da Inês há anos sem fim e ninguém estava à espera de um desfecho destes. As mulheres partilham tudo menos o usufruto e o bambolear sensual de uma mala. Esta era "A" mala a passear na Avenida da Liberdade ao final da tarde ou no Porto de Santa Maria no Guincho na hora da sobremesa.
O segredo para conseguir saldos e promoções especiais em qualquer loja fora dos períodos habituais, a porta de entrada em grande em qualquer restaurante "completamente cheio" e fechado para reservas nos "próximos seis anos".
A Birkin era para a Inês aquilo que o David Gandy é para os Super-Modelos masculinos. Noutro patamar e esquina da vida.
Agora é que a Maria ia fazer estalar o verniz, pensei eu para os meus botões Massimo Dutti. Ela continuou com o seu discurso planeado ao milímetro e confirmou que "A" mala estava quase a chegar de um Souk das Arábias. Como o marido está sempre no Dubai a trabalho pensei que era um presente caro para compensar as férias do ano passado no Algarve (um desastre). Parece que não. A Maria vai pagar ela própria por este "mimo" e diz que não vê a hora de tocar no objecto e sentir o cheiro do couro bem trabalhado. Acho que a Inês se sentiu muito mal na dita ocasião porque não parava de tocar na minha perna de forma veemente. Ainda hoje sinto dores.

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