terça-feira, 13 de julho de 2010

O Zé anda a passar-se...

São nove da noite e nem consigo comer o meu prato habitual de espargete com atum (desta vez com um toque de açafrão com 50% de desconto em Cartão Continente a partir de 15 de Agosto) ou beber o meu sumo de toranja descansado.

Fiquei tão nervoso que em vez de "prato" ia escrevendo "parto" e parecia que estava a comunicar mais um nascimento de um rebento do Júlio Iglesias em Punta Cana com a sua eterna e loura Miranda (com este nome ou era hospedeira da KLM ou relações públicas dos Pauliteiros).

O Zé ligou-me enfurecido e diz que as crianças partiram o I-Pod que tinham comprado na Apple da Quinta Avenida em NYC (indicação minha, obviamente) e lançaram os peixes vermelhos do aquário de água fria pela janela do terceiro andar.

A verdade é que as crianças já não são o que eram e se antes se atiravam os peixes pela sanita comme il faut, agora é borda-fora da janela do condomínio fechado em Belas com eles.

Eu, optimista por natureza quando estou esfomeado ou nas paragens de autocarro à espera do 44 (isto nunca mais chega...devem estar em greve outra vez) tento dizer que se calhar os peixes tiveram a sorte de cair na ribeira ou no lago do campo de golf, e que o I-Pod se calhar tem arranjo numa das lojas chinesas do Martim Moniz. Mas o Zé não arreda pé e acha que as crianças têm de ir para um Colégio Interno em Kiev ou para os Pupilos do Exército.

Parece que agora já não se vai para a Suíça, é a crise internacional e os escândalos da UBS.

Acho que ele perdeu a cabeça, coitado. Já estava a imaginar a Mafalda a vestir-se de soldadinho de chumbo e o Rodrigo a encerar as botas com Creme Barral muito gordo.

Tento fazer-me ouvir.... "Ó Zé, acalma-te, os míudos são assim". Mas ele não quer saber nada das minhas doces e inocentes palavras e está para escrever um novo mandamento no Monte Sinai. As crianças precisam de disciplina, diz ele, e vai acabar com os CDs da Hannah Montana e dos Morangos com Açúcar. Acabam-se também as férias em Port Aventura em Agosto e o Natal na Ilha Mágica de Sevilha.

Do mal o menos, as crinças apanhavam sempre uma barrigada de Torrón de Alicante e de Churros com chocolate e passam horas na minha casa de banho (claro, directas para a minha casa...) a fazer pinturas com algo mais que lápis da Viarco.

Já estou a imaginar a desgraça e a choradeira. E vai sobrar para mim seguramente. Mais sessões de cinema com os miúdos enquanto os pais vão para Cascais "arejar" e eu fico pela sala escura a fingir que percebo porque é que o Shrek já vai em quatro capítulos e anda com um gato das botas e um burro que fala. Se ainda fosse a versão cinematográfica da vida escabrosa da Tuxa no Dubai ou da Barbie Havaiana ainda lá vá. "Têm a certeza que os miúdos não gostam de um ciclo de cinema Argentino no King? Acho que dá para ver em 3D...".

Por isso decido avançar com terapia de choque. Prometo comprar um novo I-Pod numa próxima visita a NYC (quando vender o mobiliário todo de casa e um livro de receitas tântricas por acabar no Ebay)e a substituir já esta semana os peixinhos vermelhos por outros laranja (já a pensar no resultado das próximas eleições não vá tudo acabar em escabeche).

Os miúdos jubilam de alegria (e partem uma cadeira e uma mesa de apoio com uma jarra de Murano), o pai fica comovido e eu acabo o espargete já frio.

Assim não engordo. Vou ver o "Querido Mudei a Casa" porque perdi a última repetição pela centésima vez e preciso de saber como se monta um escadote. Se calhar já só vou a tempo de ver a Tyra Banks. É a vida...

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