quinta-feira, 15 de julho de 2010

A empregada da vizinha nem sempre é melhor que a minha...

O Zé Eduardo avisa que este fim-de-semana vou ter de fazer entrevistas a cinco candidatas para empregada da família.
Eu quase que me engasgo com um leite de chocolate da UCAL (fico à espera de um carregamento substancial para minha casa depois da publicidade subliminar) e nem sei o que dizer. Ele acha que o telemóvel pode estar sob escuta depois dos meus sons algo inusitados e gagejos, desliga e volta a ligar.
Quando a ligação é restabelecida e ele começa a falar, ponho o UCAL de lado e sento-me à beira da cama. Também ponho a Oprah mais baixo porque o Zé pode pensar que quem o escuta do outro lado tem o centro de diagnóstico no Harlem. E logo hoje que a Oprah entrevistava a Chaka Kan. Acho que ela até cantava no final. Adiante.
Eu nunca percebi porque é que a Sílvia nunca está presente nestes momentos de profunda convulsão da vida do marido mas o Zé corta o meu raciocínio e diz que a Sílvia está muito em baixo. Eu fico sempre preocupado com estes estados de alma da minha amiga porque da última vez a pobre coitada chegou à sub-cave da depressão por não conseguir bilhetes para o Michael Bubblé na plateia VIP do Pavilhão Atlântico. Parece que o choque foi tão grande que não tem conseguido sair do Harvey Nichols em Londres ou algo parecido. Pode ser que seja a Top Shop mas não me parece que ela saiba o caminho de táxi para Oxford Circus.
Solto então a pergunta fatal ao Zé.
Tenho medo e começo a ficar arrepiado. Ah, é uma corrente de ar. Vou fechar a janela.
Sossego mas não desisto. "O que é que aconteceu à Glória? Ela era fantástica, não era? Esteve convosco tanto tempo". Depois penso bem e acho que foram só dois meses.
Se calhar nem teve tempo de experimentar a piscina aquecida.
E já que a dúvida não me sai da cabeça, como as extensões que se colocam na Jamaica em lua-de-mel, fico a pensar que a pobre coitada até tinha recuperado de forma excelente quando o Rodrigo lhe provocou a queda parcial do cabelo porque juntou Super Cola 3 ao amaciador do Boticário (estou a ficar tão bom no Marketing de Guerrilha que não duvido que este ano receba um farto cabaz de Natal com produtos com manteiga de cajú).
Mas o Zé avança com argumentos de peso ora não fosse ele um gestor de sucesso na bolsa que trata o índice Nikkei por tu e o Nasdaq por você. E parece que o PSI 20 é por "Tio".
Diz que descobriram que a Glória bebia frequentemente o Cutty Sark de 12 anos e tinha levado algumas figuras da Lladró e uma boneca da Rosa Pomar da prateleira. Ou foi isso ou o Columbano da parede, o Zé não percebe muito de decoração.
Mas o mais grave, grita ele ao telefone, é que a empregada andava a utilizar os cremes da Sílvia e cheirava sempre a Eau du Soir da Sisley quando lhe davam folga.
Que desfecho dramático. Uma coisa é beber whisky nas horas vagas, outra é encherse de creme da Shiseido de forma ilegal e abusiva. Acho que a Sílvia fica por Londres de vez.
É por isso que decido no momento e que digo que sim ao Zé Eduardo. Digo que sim a tudo.
Quando ele me diz que eu tenho de os proteger a todos dos ladrões, que eu tenho de passear o cão e o camaleão nos momentos mortos entre entrevistas / interrogatórios, que tenho de separar o lixo e ir levá-lo ao depósito (na última vez enganei-me nas cores e lancei o papel no vidrão), que vou comprar mais cremes à Sephora, que compro o Eau du Soir tamanho gigante com a tampa trabalhada e o Coffret com sabonete, que vou buscar a Hola e a El Mueble à papelaria.
Ah não, o Zé anda a abusar muito.
A Hola fica para mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário