A Inês diz que não me liga há meses porque eu não estou no Facebook e por consequência lógica não existo na galáxia humana. Eu tento contrariar o argumento e contornar a questão mas a rapariga não desiste e tem anos de ginástica rítmica às costas e na barriga das pernas. Diz que perdi o baptizado do filho mais pequeno, o divórcio amigável do quarto marido, a morte da tartaruga no lago na casa de campo em Arraiolos e a publicação do primeiro romance.
A notícia do romance deixa-me sem palavras. "Publicaste um romance?", digo eu. "Onde é que se pode comprar?". Ela ri-se imenso e diz que agora os romances já não se imprimem e vendeu tudo a uma plataforma de publicação digital em Singapura. Eu confesso a minha surpresa e espanto e pergunto como é que posso aceder ao livro através do Google.
"Sabes dialecto da Sentosa?". "Não", respondo eu. Parece que a Inês se enganou e vendeu os direitos do livro para línguas pouco apetecíveis ou paladares mais exóticos. "E era sobre o quê?", tento indagar. "Sobre as correntes do pessimismo literário Europeu na transição do Iluminismo". "Ah, que interessante. Devem estar quase a traduzi-lo para Inglês e a discutirem a sua importância estratégica nos corredores da NATO em Bruxelas".
Ela faz um silêncio ameaçador e desata a rir a bandeiras despregadas (num bom vestido Balenciaga, apost) e estabelecemos uma trégua justa. Temos ambos imensas saudades um do outro e eu quero ver como é que ela se está a safar no quinto casamento, segunda tartaruga e um possível Best-Seller digital na Jamaica...
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