sábado, 17 de julho de 2010

O sorriso dos malandros evita rugas de expressão...

A Isabel e o Nils vieram lanchar cá a casa esta tarde. Estão de partida para a Comporta por duas semanas e queriam matar saudades antes da tranquilidade da praia, peixe grelhado e literatura de cordel na toalha. Acho que também queriam matar saudades de comida boa porque aproveitaram para levar mantimentos para o descanso prometido. E também uma vela perfumada da Dyptique para espantar as melgas.
Cada vez estou mais seguro que foi desta que a Isabel acertou. Depois de várias tentativas falhadas e de  algumas saídas de casa quase pela janela para evitar a fúria de alguns namorados ciumentos, a Isabel parece uma outra mulher.
E parece mesmo porque com as várias mudanças de corte de cabelo e uma maquilhagem carregada a Isabel está irreconhecível a um olhar fortuito.
Pode dizer-se que a Becas sempre foi a Linda Evangelista do nosso grupo até porque ambas nasceram no Canadá. A Becas nasceu em Toronto por acaso porque a mãe se enganou na data do parto previsto e aceitou um cargo directivo na Four Seasons sem pensar muito no assunto. E lá foi ela de vestido da Max Mara tamanho XL para disfarçar. Quanto à mãe da Linda Evangelista, acho que acertou em quase tudo.
A Becas cresceu por Toronto e depois por Ottawa até que a mãe se cansou de tanto hotel e Room Service e decidiu voltar à Madragoa. E também se fartou do pai da Becas porque até há pouco tempo só o víamos nos aniversários de ocasião.
Crescida e aparecida entre dois continentes, a Becas virou uma Isabel confiante e expedita.
E uma femme fatale na adolescência, ascensão profissional e conta bancária.
Mas até encontrar o Nils a coisa estava preta como uns collants da Dim da última colecção.
Teve a pobre de ir até Estocolmo numa viagem de negócios do Atelier de Decoração onde trabalha para se apaixonar perdidamente por um gigante louro de trazer por casa.
Até o convencer a vir viver para Lisboa e comer sardinhas no Verão foi um ápice. A Becas sempre teve argumentos de peso e toda a gente desconfia que ela sabe dança do ventre.
O Nils entrou sem problemas no grupo depois de perceber que ninguém queria saber nada de minimalismo na política educativa de Uppsala nos anos cinquenta. Arranjou trabalho como tradutor num instante e é o preferido das alunas que deixam mensagens no Facebook a compará-lo ao vampiro da saga Twilight.
A Becas nem dá por isso. Agora que penso mais sobre o assunto a Becas não parou de rir durante o lanche. Mesmo enquanto comia a caixa inteira da Versailles que eu tinha guardado só para mim. A Becas estava com um sorriso malandro esta tarde, estava sim senhor. E sem uma única ruga na testa. Deve ser porque agora tem um caso com o irmão do Nils. Se calhar é com o meio-irmão. Antevejo uma fuga curta pela janela do segundo andar ao Largo do Xafariz desta vez.

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