Um dia em Amesterdão, estava eu como estagiário na Fundação Felix Meritis, quando conheci a Evelyn Fox Keller. Foi um culminar brilhante para um início desastroso.
Lembro-me bem de cada detalhe porque nada parecia normal naquela jornada particular.
Se a Marisa Monte acha que pode cantar, sob o auspício do morro dos dois irmãos de Ipanema, o seu "infinito particular", eu estou seguro de me ter sentido infinitamente pateta naquele dia.
O facto da lâmina de barbear se ter partido a meio da operação delicada para encerrar o ciclo da barba de 5 dias habitual, e de ter ido trabalhar com parte da cara tipo Joker da Marvel não ajudou em aboluto. Isso e por ter nevado em Abril na Holanda. Tudo naquele dia fazia prever uma longa e exaustiva missiva papal de perdão absoluto ou de fuga iminente para os calores do chocolate da Godiva em Bruxelas.
E depois entrei no escritório e disseram-me que tinha de ir buscar a Evelyn Fox Keller ao hotel e trazê-la para a Fundação. Eu obviamente disfarcei de forma correcta qual aluno do Actor´s Studio no último ano patrocinado pelo sobrinho do Eastwood e confirmei que sabia quem era a figura emblemática do MIT. E até falei das várias correntes em discussão em Stanford e Yale (contraditórias) sobre pesquisa somática com um toque de Wittgenstein. Nem a barba a meio me deteve.
Presumi que tínhamos mais uma conferencista de excepção mas não reconheci o talento real e corpóreo do nome. Mas como disfarço lindamente e tenho um sorriso irresistível como diz a minha amiga Maria quando está sob o efeito de barbitúricos, assumi o desafio como mais um passo para chegar de forma célere a presidente da Comissão Europeia. Ou a estrela de filmes mudos Indianos em Bangalore.
E assim fiz, de pequeno dossier ao peito e com o meu ar de personagem de um filme do Tim Burton, e fui buscar a senhora ao lado do Café de Jaren ao Hotel de L´Europe.
E, cutting a long way short, depois de um segundo pequeno-almoço improvisado de dois desconhecidos cuja única paixão partilhada e reconhecida era pelo verde dos campos de Cambridge-Massachussets, e de algumas horas a ouvir uma mulher falar com a segurança e sabedoria sobre a importância da linguagem na Ciência, caí de amores pela vida e obra deste personagem genial. E tornei-me um perfeito e confesso stalker até não ter mais nada para ler ou investigar sobre o CV e a vida íntima (biologia molecular a quanto obrigas) deste ser tão especial.
Não falamos há anos e nem sei se ainda tem o mesmo escritório com vista para a casa da Teresa Heinz em Beacon Hill. Acho que partilhavam receitas de Ketchup e outras dicotomias ancestrais sobre silogismos Aristotélicos.
Não sei se ainda está entre nós mas é a minha única maneira de a sentir por perto esta noite:
http://web.mit.edu/sts/people/keller.html
Para bom entendedor meio Link chega.
Vou jantar que o lanche deixou-me com água na boca.
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