terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Zé Eduardo aprende a cozinhar. Mais ou menos...

Quem é um pai atento descobre sempre quando está em falta. Quando falhou e não deveria ter falhado. Quando precisa de compensar. Quando precisa de ser perdoado. Quando exige ser adorado incondicionalmente outra vez. O Zé Eduardo é um pai amoroso mas às vezes esquece-me de algumas coisas importantes. Dar banho aos miúdos (que agradecem), ler uma história para adormecer (adormece ele primeiro), cantar com eles as músicas da Leopoldina (nunca percebi esta), vestir-lhes as roupas acertadas cada manhã (as crianças vão para o colégio com os fatos de Judo), preparar-lhes os lanches (vão com pacotes inteiros de bolachas e um litro de leite da Mimosa Cálcio cada um). Como esta semana a Sílvia está em Londres e os miúdos estão de férias, o Zé decidiu ser um Super-Pai e cozinhar para eles (e para mim por arrasto) pela primeira vez na vida. Claro que hoje me ligou umas cem vezes a perguntar se eu sabia como se acendia o botão do forno ou onde é que a empregada guarda a comida em casa. E também se a carne assada precisa de ser cozida no micro-ondas primeiro. E durante quantas horas.
Quando chego pelas 19.00 PM em ponto ele já está de avental e os miúdos estão em festa. O nudista-terrorista hoje está muito bem vestido de pijama do Snoopy e cabelo com brilhantina (é pasta de dentes de mentol que a irmã despejou pela cabeça dele à tarde). A terrorista cabeluda hoje está também bem disposta e calça uns Jimmy Choo da mãe aos quais já arrancou uma das presilhas e cortou um dos saltos com a tesoura da Barbie Cabeleireira. Começamos lindamente. O Zé anda de um lado para o outro e tira dezenas de taças e pratos sem qualquer sentido prático, Muda-os do balcão para a mesa e vice-versa e os miúdos pensam que é um jogo e partem metade no chão. Depois começam a partir os copos de cristal porque dizem que querem fazer colares de diamantes para a mãe. God! Quando acabo de limpar os vidros já o nudista com poupa abrilhantada está em cima da mesa a saltar para cima da fruteira e a lançar as bananas contra a irmã. Esta, que não é nada ingénua e não se deixa amedrontar, pega em uvas D. Maria (a minha sobremesa) e espalha-as nas calças do irmão enquanto lhe dá socos nas pernas tipo Myke Tyson em auge de carreira. O Zé continua impávido e sereno e começa a fritar algo que explode num dos bicos do fogão e espalha gordura pelo tecto todo. Os miúdos começam a fazer sirenes dos bombeiros e eu vou tentar perceber o que começou o fogo. Afinal o Zé decidiu fritar alface crua porque pensava que os "peixinhos da horta" se faziam assim. Sim senhor, promissor. O terrorista com uvas nos mini-boxers invade a dispensa e começa a espalhar um pacote inteiro de farinha Maizena pelo chão e a saltar como um louco possuído por cima de tudo. A cozinha fica encoberta por um manto de pó intenso e o Zé grita do outro lado do balcão que já está a cozinhar o prato principal. A terrorista diz que gosta mais da farinha Branca de Neve porque vêm sempre sete anões lá dentro. Outra futura louca e gestora de contas milionárias na Euronext. Sai mesmo ao pai. O terrorista branquinho diz que não gosta de anões porque são feios e parecem doentes e que prefere o Alf e os Transformers. Ora aí está um dos meus. Vai para activista político famoso e faminto. O Zé diz que já está quase pronto e começa a colocar a comida no prato. Os miúdos gritam de excitação mas eu só vejo batatas fritas de pacote. Ele diz que podemos começar a comer e os miúdos devoram tudo num instante sem talheres sequer. As batatas fritas apenas. Nada mais. "Oh Zé, e o resto?", digo eu com um sorriso pálido. "O resto é fondue de queijo!". Vão adorar!". Os miúdos olham para mim enquanto ele vai buscar a frigideira com a vela para fritarmos os pedaços de Gruyère e Emmental mas pensam que é um bolo de aniversário e apagam o fogo com dois copos de sumo de toranja natural inteiros. Três vezes. Quando finalmente as convencemos que os bolos são geralmente mais coloridos e fofos que um tacho de cobre esmaltado a arder ficam deliciadas. Rimo-nos todos com a piada e o Zé começa a passar os garfos. Eu fico à espera dos pedaços de queijo mas o Zé não percebe. As crianças olham para mim na ânsia de alguma revelação bíblica mas não me sai nada de jeito. 
"Oh Zé, onde é que está o queijo?".
"Onde é que haveria de estar? Dentro do tacho a fritar desde há meia hora. Já deve estar estaladiço e pronto a comer!"
As crianças levantam-se da cadeira e preparam-se para mergulhar os garfos com força. Eu penso melhor e ligo para a Pizza-Hut.

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