terça-feira, 10 de agosto de 2010

O ritual do sushi das Quartas-Feiras...

Existem modas passageiras. Algo light, muito casual. Tipo mobiliário escandinavo dos anos 50 ou o Poison da Dior aos fins-de-semana no Inverno. Existem também algumas tendências para esquecer. Tipo sapatos de plataforma, vestidos cai-cai vai mesmo cair caiu, sombras de olhos em preto lacrado versão Lesbo Lolita Goth (o máximo em Takeshita Dori em Tokyo), algumas músicas dos A-HA e dos Bee-Gees remisturadas, algumas baladas da Whitney Houston e muitos dos fatos da Céline Dion em Las Vegas. Existem também modas a evitar mas que conseguem criar paixões em nichos de mercado. Feijoada brasileira no Verão com 40 graus centígrados à sombra, modelos brasileiros como personal trainers ocasionais, personal trainers brasileiros como modelos de catálogos de roupa interior no Qatar. Mas para cada moda ou tendência que entra e sai do nosso campo visual de acção (que metáfora tão Terry Richardson para o Tom Ford), existe uma que nunca mais nos abandona ou deixa em paz. Aparentemente, pelo menos. No meu caso esta vertente não tem nada a ver com cosmética coreana experimental ou sapatos Tom Browne com um número mais pequeno do que o recomendável, mas com sushi. E sashimi por arrasto. Nunca percebi. Detesto o sabor e a cultura associada de fashionistas dos pauzinhos. Detesto as dezenas de restaurantes especialistas no assunto e os clientes famosos que juram pelas suas propriedades terapêuticas. O Zé Eduardo e a Maria tentam arrastar-me todas as Quartas-Feiras para uma sessão de California Rolls e Tempura mas eu tento sempre evitar o encontro com um amante culinário com olhos de peixe-morto. Literalmente.
A Maria só come sushi há anos e jura que nunca esteve tão magra. Também nunca esteve tão anémica e tão branca mas deve ser dos cremes da Shiseido e da falta de ferro (já não cozinha em tachos, come directamente das caixinhas de plástico do Club del Gourmet do El Corte Inglés. Modernices tecnológicas. O Zé Eduardo diz que tem ganho muito músculo e na verdade está cada vez com um corpo tipo Jason Statham (o meu ídolo porque também não gosta de bolinhas de arroz japonesas, só mesmo das japonesas envoltas em papel de arroz, aparentemente), mas para mim devem ser os batidos que eu trouxe de uma fábrica em risco de fechar na Roménia e que têm anabolizantes. E é por isso que quando os meus amigos me ligam para convidar para o almoço de amanhã no japonês eu recuso. Digo veemente que não. Que já não consigo comer a sopa misu e as saladas de algas verdes. Que já não acho piada nenhuma ao saké e nem gosto das músicas Punk House de Osaka e Nara que dão no restaurante. A Maria diz que ninguém pode detestar sushi e que eu estou velho. O Zé Eduardo diz que o sushi é o alimento mais velho do mundo e que vai deixar de gostar de mim. Eu tento salvar as minhas mais queridas amizades e digo que até já gostei de sushi. E muito. Em NYC há uns anos quando descobri que cada caixa de 10 Vegetarian Rolls custava 4.99 USD no Dean&Deluca. Aí adorava. Fazia publicidade gratuita e até me podiam entrevistar na rua para debater o assunto com a Joan Rivers ou a Chelsea Handler. Tinha forças para escrever um livro ilustrado e defender o sushi do Minnesota ao Oregon. Mas depois de vários meses a poupar no orçamento e a arrasar no stock em desconto no meu supermercado preferido na Broadway, enjoei de tal maneira que até o nome me irritava. Os filhos do Zé Eduardo é que sabem. Para eles não há "xuxi" que resista. Deve ser por isso que serei para sempre uma criança no mundo da culinária criativa até ser salvo pelo avental do José Avillez. Até porque não me importo de lamber a taça da massa do bolo como um qualquer miúdo traquina e guloso. Qual "xuxi" qual carapuça. Amanhã sai um bolo-mármore do forno.

1 comentário:

  1. Concordo plenamente, fuck Sushi! (Pardon my french assim de repente, logo eu que até sou educado e nem me apresentei devidamente)

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