quinta-feira, 22 de julho de 2010

A minha tia Mimi não gosta do Warren Buffett (e não morre de amores pelo Jimmy Fallon)...

A minha tia Mimi é como um bom pêssego em calda. Agrega sempre qualquer coisa de deliciosamente inesperado a uma receita sobejamente conhecida. É por essa razão que em finanças a minha tia é imbatível. Conselhos para investir na bolsa, metodologias de aplicação de fundos em mercados emergentes, cálculos de divisas cruzados, é com ela que têm que falar. Claro que a minha tia não tem nenhum curso de gestão ou economia aplicada (talvez estatística por correspondência), e acha que o ISCTE é uma sigla para identificar movimentos comunistas na Eslováquia. Do ISEG nem vou falar porque é óbvio e sobejamente conhecido que representa grupos de pressão do Paul Krugman em disfarçe operativo.
Mas a minha tia tem jogo de cintura e trabalha bem com a calculadora. Já quando era criança ficava babado com tanta inteligência e sabedoria. A minha tia sabia o nome de todos os amigos do Tom Sawyer e a verdadeira razão porque ocorreu a célebre discussão entre ele e o Huckelberry Finn. Queriam ambos utilizar o dinheiro que estava no mealheiro e toda a gente sabe que basta um para partir o porquinho, dizia ela. Tratou-se por isso do primeiro exercício de economia de escala. Em miniatura.
A minha tia via também mensagens subliminares nos Marretas. Especialmente no urso Fozzie (cantor e entertainer que não ia a lado nenhum e vivia seguramente de subsídios estatais), e também na Rua Sésamo (o monstro das bolachas não sabia poupar e comia tudo de boca aberta). Enfim, uma infância passada à frente da televisão com a minha tia Mimi foi uma verdadeira e eficaz lição de vida. E uma lição que se mantem no presente como num cofre da UBS. Deve ser por isso que ainda hoje vemos alguns programas juntos depois dos jantares à Quarta-Feira. A única coisa que não compartimos é o gosto pelos apresentadores. O coração da Mimi bate pelo Jay Leno e o meu pelo Jimmy Fallon. Será que posso perdoar tamanha injustiça? A Mimi também gosta da Tyra Banks mas nenhum de nós percebe a Ellen. Deve ser muito avançado porque mudamos sempre para o National Geographic.
Mas a Mimi diz que nos últimos tempos há certas coisas que não percebe mesmo. E como gosta de opinar com conhecimento de causa pede a minha opinião letrada.
Diz que está a ler o "Snowball Effectt" do Warren Buffett e não percebe porque é que o livro se tornou num Best-Seller instantâneo de Kathmandu a Nairobi. Eu, a medo, digo que o livro não é de pacote e não vem em pó, mas ela não percebe a piada. Isto é sério.
Tento pensar numa explicação válida para explicar a ascensão fulgurante da nova bíblia dos investidores mas ela não vai na canção de embalar (ou eu tenho uma péssima voz para cantar-adeus casting para os Ídolos). Diz que o que não entende é como é que o Warren Buffett chegou onde chegou com falinhas mansas. Qual é o génio? Qual é a função? What´s the point?
A minha tia é muito metódica e isto vai durar algum tempo. Reformulo o meu discurso e aplico uma lição moral. Explico que o senhor tem uma fundação filantrópica com o Bill e a Melinda Gates e que está a doar parte substancial da fortuna para projectos de desenvolvimento sócio-económico em África. É um bom homem. Repleto de boas intenções. A minha tia deixa-me acabar o discurso e dispara à primeira. "Isso é para fugir aos impostos. As leis de mecenato e dotação orçamental para despesas de inter-ajuda comunitária estão isentas nos EUA. E revertem a favor em 65% para as empresas que as promovem". A minha tia é um génio. Deve ser por isso que quanto mais o Warren dá, mais rico fica. Tudo explicado. A minha tia devia ser colunista do Les Echos ou do NY Times. Pena que pense que o último é uma sigla para identificar o boletim meteorológico.

2 comentários:

  1. John, já consideraste prosseguir carreira como copywriter? Tens todo o potencial. Consegues transformar histórias banais em autênticos acontecimentos que nos prendem em pormenores e referências! :)

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  2. Kate! Thank You!
    Se tiveres uma proposta de 5.000 Euros por mês, pagamento da hipoteca da casa e passe social da Carris / Metro posso considerar essa opção. Preciso também de uma avença mensal na FNAC e na loja de revistas dos Restauradores. E uma mesada para lanches na Versailles e no Café Austríaco do Chiado. Penso que é tudo. Também estava a precisar de uns sapatos mas pode ser só no Natal.
    O Terre da Hermès ainda tem uns 15 ML, pode ser que dure se só fizer um Spray de manhã...

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