O Zé Eduardo diz que está desesperadamente a precisar de comprar sapatos novos. Como está apenas desesperado por um bom par de sapatos e não loucamente à procura da Susana como a Madonna em início de carreira em NYC, acedo a ouvir as suas ladaínhas habituais e histórias rocambulescas sem final feliz. Que os sapatos agora já não duram nada, que já não há bons profissionais do calçado, que ninguém aqui replica um bom Berluti ou um excelente Ferragamo como em Paris ou Florença. Talvez mesmo Beirute. O meu amigo até tem razão. Os sapatos para homem deixaram de ser um bem de excelência para ser um bem para quem tem excelentes recursos. Eu, que sou um extraordinário comprador compulsivo de sapatos na Massimo Dutti em saldos (5 modelos todos iguais no último mês e remate final) ainda tento demover o meu amigo de tentar formar o partido político dos Sapatistas qual Frida Khalo ou Diego Rivera em final de carreira e acamados na Cidade do México.
Mas o Zé não se deixa convencer e diz que precisa da minha ajuda para escolher uns novos pares para a estação outononal que se aproxima (e nunca mais chega!).
O Zé é muito engraçado porque desde miúdo adora pedir-me conselhos para depois fazer exactamente o contrário do que eu digo. Como naquela vez na escola em que não sabia se havia de copiar o meu teste de química ou não e me pediu um conselho de amigo do peito. Quase irmão. Eu até o deixava copiar à vontade como sempre mas ele demorou-se tanto tempo a decidir que a professora deu-lhe um puxão de orelhas por ele estar a falar para o ar. Ou quando não sabia se ia para o rugby ou para o pólo aquático. Eu achei que ele dava um óptimo Gergély Kiss em Budapeste e ele decidiu ser um excelente Jonny Wilkinson em Twickenham. E também naquela ocasião em que não sabia com qual das três namoradas terminar a relação e eu o aconselhei a fazê-lo com duas, pelo menos. Ele juntou-lhe mais uma Sueca de férias em S. Martinho do Porto e a filha da empregada dos avós e ficou com cinco bigamias concentradas num refrão repetitivo do Aznavour durante todo o Verão. E ainda aquela vez em que não sabia o que oferecer à Sílvia no aniversário de casamento e foi contrário à minha ideia de uma saia negra da Lanvin e avançou com a compra de um cão. Ainda por cima incontinente desde cachorro e que larga pêlo por todo o lado e só gosta de soupa de abóbora. Daí o nome (Soupas, não Abobrinha).
Enfim, o meu amigo não se presta muito a conselhos. Mais a distritais e capitais de concelho no CDS-PP. Mas desta vez eu jurei que iria ser diferente e lá fui com ele para a Rosa&Teixeira fazer figura de candeeeiro (giro mas pouco útil num corte de luz generalizado). E ele até se esforçou. Calçou um bom par de Tod´s castanhos, uns negros do Zegna, uns cinzentos-rato do Bikkembergs. Eu estava tão contente com o progresso que nem me apercebi dos preços de cada um. Pelas minhas contas dava para pagar a sola em 12 suaves prestações de uns mocassins da Prada com o meu salário. Talvez só mesmo os berloques dos Church. Porque foram esses (que eu detestei) que o Zé escolheu em três cores diferentes no mesmo modelo. Os berloques eram os mesmos, no entanto. O Zé agradeceu imenso a minha presença e conselho e ofereceu-me um par também em castanho-mel. Eu quando vi os berloques nem queria acreditar. O Zé voltou aos anos 90 quando estava na Católica e cantava (muito desafinado mas altivo e feliz) no coro de Santo Amaro de Oeiras. E namorava com 7 raparigas de Algès a Cascais. E era campeão de rugby. E de salto à vara (um mistério). Ocasionalmente de canoagem a nível regional. Ele diz que os berloques estão de volta. E que é um prazer voltar à juventude. E de voltar a sentir que algo se mexe no corpo. Mesmo que seja só um berloque com franjas.
Sem comentários:
Enviar um comentário