domingo, 25 de julho de 2010

Berlim está na berra. E toda a gente grita imenso sobre o assunto...

O Luís Filipe desistiu de ir para Kuala Lumpur. Diz que estava de cabeça perdida quando tomou a decisão mas que agora está bem. Já recuperou da loucura. Já pode tomar uma decisão. Já acertou na medicação. E quer ir para Berlim. O mais depressa possível. Até amanhã se existir voo em Low Cost. Eu, habituado a estas flutuações de desejos e vontades imediatas que nunca se materializam com o meu amigo, digo que sim. Que acho óptimo. Que ele vai adorar. Que já não volta. Que é para sempre (com as últimas afirmações fico algo triste mas resisto a chorar. Disfarço muito bem e digo que é uma alergia).
O Luís está tão convencido que Berlim vai ser o seu Shangri-la (T1 com vista para a Alexander Platz) que até começou a ter aulas de alemão. Já vai na terceira e sabe dizer porco. E cuidado. E atenção. Pouco mais. Mas ele aprende depresssa e vai ser um êxito com as alemãs. Não é todos os dias que se vão poder cruzar com 2 metros de um lutador de Jiu-Jitsu reconhecido no ranking mundial. Ou com um cabelo que nem precisa de gel. E que sabe dizer cuidado na língua nativa. É um plus. Não o vão deixar em paz. Vêm mais sobrinhos a caminho que vão adorar conhecer o tio Português num T0 com Kitchnette em Lisboa. Que também sabe dizer porco. E nada mais.
O Luís quer então o meu conselho sobre o que pode fazer na capital da maior economia europeia. Onde pode trabalhar. Onde pode comer e comprar bifes de soja e sementes de sésamo. Eu, que nem sabia que ele tinha virado vegetariano, tento fazer um roteiro esquemático para que ele se sinta em casa. Digo que ele pode ser um Personal Trainer de excepção para viúvas ricas em Potsdam. Ou um professor de artes marciais num colégio em Charlottenburg. Ou um artista de rua em Bahnhof Zoo. Ele não se mostra muito convencido. Diz que quer abrir uma galeria numa área desocupada da cidade. Uma plataforma de vanguarda para exibir novos talentos num descampado perigoso. Eu, que desconhecia por completo que ele era um grande artista com catálogo na Sotheby´s e portfolio na Leo Castelli, fico maravilhado com esta vontade férrea e tão específica. E até perigosa. Será marketing de guerrilha? É que toda a gente parece que pensa como o Luís nestes últimos meses. Ou anos. E toda a gente está a emigrar para um exílio existencialista moderado na antiga Prússia. Assim de repente. Por paixão. Como uma salsicha em busca de um bom pão. Como uma boa mostarda. Já estou a delirar. Mas a verdade é esta. Não há como escapar. Berlim é a nova Londres. A nova São Francisco. Mais fria, é certo. Mas mais ardente. Mais underground. A nova Barcelona para a geração dos trintões com projectos por desenvolver e questões para amadurecer. E talvez relações de que fugir a sete pés (a última namorada do Luís já tinha comprado imensos bikinis e factor de protecção 50 para a Malásia e nunca o perdoou). Enfim, Berlim é a nova meca para os jovens-empresários com imensas ideias e sonhos por cumprir. Aflitos ou bafejados pela sorte, todos querem comer uma bola de berlim com creme. E é então que decido que vou ajudar o meu grande amigo com todas as forças. Sem olhar para trás (estou com um torcicolo). Sem olhar a meios (talvez possa controlar os aspectos financeiros com um empréstimo). Vou patrocinar a viagem do Luís para a nova Jerusalém dos artistas e génios de excepção. Começo a cantarolar uma música da Ute Lemper e imagino-me a passar férias de alguns meses naquele T1 que o Luís vai alugar. A Maria também vai. A Inês não vai resistir. E depois tenho uma ideia brilhante. Lembro-me de um artigo na Art Forum sobre a nova zona a explorar na cidade. Adeus Mitte. Good-Bye Karl Marx Allée. Olá traseiras da Hamburger Banhof. E comunico ao Luís o meu conselho direccionado. A minha dica instrumental. A minha contribuição para a sua intrínseca felicidade e futuro como galerista. "Hamburger Banhof?", diz ele. "Já te disse que sou vegetariano".

Sem comentários:

Enviar um comentário