quinta-feira, 29 de julho de 2010

As dietas de frutas exóticas podem promover contorcionismos acrobáticos...

A Catarina está a fazer a dieta do ananás. A Rita a da papaia. A Maria parece que aposta pela da goiaba e do limão. Semana sim, semana não. A Margarida diz maravilhas da dieta da cenoura. Olham todas para mim. Eu não digo nada. Não estou a seguir dieta nenhuma. Nunca pensei nisso. Minto. Uma vez. Na Holanda quando estava no segundo ano da faculdade em Erasmus. A bolsa de estudo era pequena, a carne era cara e o peixe impossível. Dediquei-me de alma e coração a uma dieta de batatas e cenouras. Algumas courgettes. Alguns rebentos de soja. Sem exagerar, no entanto.
Elas dizem que eu não compreendo o sacrifício. O terror da balança. O perigo dos bikinis na praia. Os comentários sobre orcas e baleias que "deram à costa". Sobre celulite e a camada adiposa na pele. Sobre pele de laranja e casca de banana. A última é minha. Pura invenção.
Mas adiante. No fundo eu não percebo do assunto. Estou eternamente magro. Tenho um pacto com um anjo mau e lingrinhas. Fiz um acordo com o "Fininho" das séries da RTP Memória. Enfim, estou de tanga. Sem manga. Não preciso. E odeiam-me por isso. Não me podem ver à frente. Não me levam às compras no Outlet do Ralph Lauren em New Jersey. Não compram batidos comigo na farmácia. Não trocam receitas de liquidificadores. Não me querem nas aulas de Body-Pump. Estou excluído. Não por centímetros ou neurónios. Por gramas. Mas eu quero lutar e pertencer ao clube restricto. Quero saber a palavra-chave e o código de cinco dígitos. Vou fazer dieta também. Tenho de escolher uma fruta. É para já.
Vou ao Pingo-Doce ao final da tarde preparado para o desafio. Levo algumas ameixas. São diuréticas e refrescantes. Talvez me adapte. Levo cerejas. Diuréticas também e fáceis de comer. E giras. Vou adorar. Levo uvas. Brancas e negras. Vou tornar-me o seu melhor amigo e comer sem parar. Levo também goiabas. Têm uma côr engraçada e ficam bem na fruteira. Levo maracujá. Fica lindamente ao lado da louça da cristaleira. Levo pêra-abacate. Vamos ser parceiros para a vida. E depois passo pelos figos. Kilos também para dentro do carrinho.
Falta-me algo. Procuro outra vez. Ora aí estão. Pêssegos carecas. Adoro e não precisam de enxertos ou extensões como algumas pessoas. E pago tudo na caixa. Uma fortuna. As dietas com fruta são caras. Chego a casa e começo a comer. Hoje não janto. Amanhã não almoço. No fim-de-semana fico a água e cerejas. E faço chá com os pézinhos.
Estou óptimo, sinto-me bem e cheio de força. Elas tinham razão. Isto funciona. E limpa o organismo. Vou ler a Sábado. Acabo finalmente o artigo do Christopher Hitchens na Vanity Fair. E folheio algumas páginas do último romance da Naomi Campbell (vinha numa revista por mais 1 Euro). Sinto uma dor. Pequena. Insignificante. Depois outra. É uma cólica. Vai passar depressa. Não vai não. Tenho de correr. Não chego a tempo. Vou chegar. Tem de ser. Estou deseperado. Até choro. Passo as próximas horas sentado. Não me consigo levantar. Leio as revistas todas dos dois últimos meses. E alguns jornais regionais italianos. Penso trazer o computador portátil mas a ficha não dá. Muito pequena e muito pouco tempo para correr até à sala de calças pelos tornozelos. Ora bolas, se era assim tão fácil acabar com a prisão de ventre podia ter comprado 1 litro de Um Bongo. Já estava tudo misturado e não tinha caroços. E sai mais barato. A Maria está a ser roubada na mercearia.

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